O evento contou com uma programação que trouxe o poder transformador da literatura à tona
A última edição do Retratos de Leitura no Brasil, uma pesquisa nacional que analisa as práticas de leitura dos brasileiros, mostrou que apenas 27% dos entrevistados leram pelo menos uma obra completa nos três meses que antecederam a pesquisa, divulgada em novembro de 2024. Foi pensando na necessidade de reavivar a importância da leitura que o Festival Literário de Mariana, o Flim, reuniu, no dia 11 de dezembro, os alunos das escolas municipais da cidade para o lançamento do livro “Escrevivências: diários de tantas infâncias”, idealizado pela professora Fátima Rezende a partir de textos e imagens produzidos pelos estudantes do quinto ano da Escola Municipal de Bento Rodrigues. O festival ainda premiou os vencedores do concurso de Aldravias Ilustradas das escolas municipais da cidade.
O termo “escrevivências” trata da reescritura das vivências a partir de um olhar do sujeito com sua ancestralidade. O conceito, criado por Conceição Evaristo, importante linguista e escritora afro-brasileira, e inspirado pelo livro “Diário de Pilar na Amazônia”, escrito por Flávia Lins e Silva, serviu como base para a produção dos alunos da Escola Municipal de Bento Rodrigues.
O livro convida as crianças a serem protagonistas das suas próprias histórias, mesclando narrativas reais e ficcionais que exploram as suas próprias vivências. Para a diretora da escola, Eliene Almeida, os alunos estão mais resistentes à leitura e projetos como esse contribuem para retomar o encantamento das crianças com os livros, trazendo benefícios perceptíveis para a educação. “A leitura abre espaço para muitas questões na vida deles. Eles melhoram em relação ao vocabulário, escrevem mais corretamente e, com certeza, as notas deles melhoraram”, afirma a diretora.
Durante todo o ano de 2024, foram ministradas oficinas de aldravias, desenhos e esculturas têxteis para alunos dos terceiros aos nonos anos do ensino fundamental das escolas dos distritos de Mariana. A reunião das produções artísticas dos estudantes culminou na publicação do livro “1º Concurso de Aldravias Ilustradas da Rede Municipal de Ensino de Mariana”, também lançado no Flim. A obra é um compilado das manifestações artísticas que os alunos produziram a partir das oficinas. As poesias publicadas estão acompanhadas de desenhos e fotografias das esculturas feitas pelos alunos.
O projeto pedagógico é uma parceria entre a Secretaria Municipal de Educação de Mariana, a Academia Marianense de Letras, a Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil e a Aldrava Letras e Artes. Para Luiz Felipe Cizilio, subsecretário municipal de Educação de Mariana, “a importância dessa parceria é principalmente trazer os alunos premiados, que na sua maioria foram de escolas de distritos, para dentro da Sede, para que eles reconheçam esse espaço como deles”. O subsecretário entende que as premiações são uma forma de valorizar a educação no município.
A Aldravia, uma expressão de poesia minimalista que compreende seis versos uni vocabulares, foi criada em Mariana, em 2010. Os premiados no concurso Aldravias Ilustradas, organizado pela Rede Municipal de Mariana e parte da programação da Flim, foram chamados ao palco para falar sobre seus processos criativos com Andréia Donadon, poeta, artista plástica e idealizadora do projeto. “A ideia é criar uma rede poética de ensino para que todos possam produzir poesia, mas sendo orientados pelos escritores, os criadores do movimento”, conta a artista.
O Festival de Literatura de Mariana, realizado pela instituição Reparação da Bacia do Rio Doce, contou com diversas atividades destinadas ao público infantil. A fim de estimular o hábito da leitura e a capacidade criativa dos estudantes, eles puderam assistir à apresentação teatral “Malala e o lápis mágico”, que conta a história da ativista paquistanesa que ganhou o prêmio Nobel da Paz em 2014. Eles também puderam participar de oficinas de ilustração e criação de livros, como estímulo para continuarem desenvolvendo suas habilidades como escritores e artistas.
Em bate-papo com a jornalista Bianca Ramoneda, a última atividade da programação do Flim, a escritora Thalita Rebouças encerrou o evento evidenciando os desafios para a formação de leitores no Brasil: “É essa literatura (recreativa) que ‘pega’ as pessoas que estão deixando o livro de brinquedo e de ilustração de lado, e achando o livro adulto muito adulto para elas. Então elas se perdem ali, e é muito difícil retomar os hábitos da leitura mais tarde. O livro infantojuvenil é o grande segredo para formação de público leitor.”
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