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João Henrique Ribeiro e Rian Vinícius

Cine Teatro de Itabirito é reinaugurado

Após 17 anos fechado ao público e com problemas que incluem comprometimento estrutural e processos na justiça, espaço cultural reabre suas portas e lança expectativas de renascimento cultural para a cidade.


#ParaTodosVerem: Imagem da fachada do prédio do Cine Teatro Liz Bastos. No hall de entrada, algumas pessoas conversam em seu interior.  Do lado externo, um carro preto e uma moto estão estacionados próximos ao edifício. Ao lado, anexo ao prédio, há uma área de lanchonete com letreiro escrito Café. Na parte superior, é possível ver algumas janelas e um letreiro com o nome do espaço: Cine Teatro Liz Bastos. Ao redor, podem ser vistas árvores e um poste à direita. A pintura do prédio é dividida em duas cores: azul claro na parte inferior e branco na parte superior.
Após dois anos de obras para revitalização do espaço, o Cine Teatro Liz Bastos foi reinaugurado. | Foto: Rian Vinícius

Em cerimônia realizada em 13 de dezembro último, o antigo Cine Teatro Pax de Itabirito, agora rebatizado como Cine Teatro Liz Bastos, foi reinaugurado após passar por reformas. O evento reuniu artistas e moradores da cidade, além de familiares da homenageada que empresta seu nome ao espaço. Pronto para receber exibições de filmes e apresentações teatrais, o Cine Teatro representa um novo marco para a história e cultura do município.


O prédio é tombado pelo Conselho de Patrimônio Histórico do município, o que reforça sua importância histórica e cultural para a cidade. No entanto, ao longo dos anos de abandono, o edifício sofreu danos significativos, o que gerou polêmicas sobre a preservação de sua estrutura original. A deterioração do local, aliada à falta de ações concretas para sua restauração, levou a um debate sobre a preservação do patrimônio cultural de Itabirito e o papel do poder público na manutenção de espaços históricos.


Inaugurado em 29 de junho de 1959, o Cine Teatro Pax foi instalado em um edifício modernista projetado para atender à crescente demanda de eventos culturais e entretenimento na cidade. Originalmente com capacidade para 700 pessoas, o espaço se consolidou como um dos principais centros culturais da região, abrigando sessões de cinema, formaturas, apresentações teatrais, palestras e outros eventos comunitários.

Durante os primeiros 30 anos de operação, o Cine Pax tornou-se um ponto de encontro importante para a comunidade local, especialmente pelas exibições de filmes que atraíam uma grande quantidade de público. Porém, com a popularização da televisão e a oferta de novas opções de lazer, como a locação de filmes em fitas VHS, e as diferentes possibilidades de entretenimento trazidas pela urbanização, as sessões de cinema no local foram se tornando mais escassas.


O imóvel, que era gerido pela Companhia Melhoramentos de Itabirito, foi desapropriado pela Prefeitura e incorporado aos bens do município em 1999. Com a intenção de transformar o espaço em um centro de eventos culturais, o prédio passou a ser de responsabilidade da Administração dos Centros Culturais, setor diretamente ligado à Secretaria de Patrimônio, Cultura e Turismo, e utilizado para apresentações teatrais, reuniões, seminários e formaturas. 


Em 2006, o prédio foi tombado e, a partir de 2007, a Administração passou a buscar meios para reformar o espaço que se encontrava danificado e fechado para todas as atividades desde então. A viabilização de recursos ocorreu somente a partir de 2022 e as obras de reestruturação duraram cerca de três anos.


 

“Faz parte da minha história”

 

Em uma época com poucas opções de lazer e o cinema ainda conquistando grandes públicos, o Cine Pax surgiu como uma grande oportunidade para os moradores de Itabirito. Para alguns, inclusive, o espaço foi determinante em suas vidas, já que era um dos principais locais da cidade onde as pessoas se encontravam e se conheciam. Além disso, o Cine Pax era ainda um importante palco para exibição não só de filmes clássicos, mas também de obras que retratavam a história de Itabirito, como o caso da “Maldição de Cata Branca”, que abordava o desmoronamento e alagamento da Mina de Cata Branca, gerando lendas locais.


#ParaTodosVerem: Registro antigo do Cine Teatro Pax, no final dos anos 70. Em primeiro plano, um carro verde estacionado e ao fundo pessoas observam os cartazes afixados na parede frontal do cinema. Na parede do Cine Pax é possível ver um cartaz anunciando o filme “A maldição de Cata Branca”, com exibição às 18 e 20 horas.
Fachada do Cine Pax no final dos anos 70 indica a exibição do filme “Maldição de Cata Branca” | Arquivo pessoal Lauro Bastos Bittencourt

A aposentada Helenice Perpétua, 76, frequentou o cinema durante o período de seu namoro e noivado, em meados dos anos 70, e descreve o Cine Pax como parte fundamental da sua trajetória, já que era um lugar que ela visitava todos os finais de semana. As sessões de domingo, sempre às 18h30, eram uma oportunidade de socialização para os casais jovens, que não tinham autorização para ficar na rua até mais tarde, como menciona Helenice. Segundo ela, “o Cine Pax foi muito mais do que um cinema e vai ficar sempre na nossa memória".


Resistência e controvérsias diante de um patrimônio histórico


Apesar das promessas de revitalização e uso como espaço cultural após a compra pela Prefeitura, o cinema permaneceu abandonado e os planos de recuperação demoraram para sair do papel. Durante mais de duas décadas, o prédio foi alvo de negligência e se deteriorou com o tempo, o que foi agravado, principalmente, pelas fortes chuvas que assolaram a cidade em 2022. 


O processo de restauração do Cine Pax, no entanto, gerou polêmica e controvérsias. O vereador René Butekus, que fez a denúncia junto ao Ministério Público acerca das irregularidades no processo de revitalização, menciona que, por ser um prédio tombado, em vez da demolição parcial, o imóvel deveria ter sido restaurado de acordo com as normas de preservação.


Ainda de acordo com o vereador, o projeto de reconstrução foi alterado sem autorização do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compatri). Após a denúncia, a Justiça interveio e determinou que a restauração seguisse os moldes originais do edifício. No entanto, Renê lembra que, apesar das correções feitas, "o crime contra o patrimônio histórico ainda continua sendo apurado na esfera criminal". 


Os conselhos municipais de patrimônio desempenham um papel crucial na manutenção, preservação e valorização do patrimônio cultural, não apenas em nível local, mas também nacional. Segundo o coordenador do Núcleo de Pesquisa em Direito do Patrimônio Cultural, Carlos Magno, o poder público deve tomar as decisões com o consentimento do Conselho Municipal de Patrimônio, sem desconsiderá-las. "É importante que qualquer intervenção seja feita com o devido respeito ao valor histórico e cultural do local", informou o coordenador.

A revitalização do Cine Teatro Liz  Bastos não foi um processo simples. Resultado de três anos de trabalho, o projeto original sofreu diversas mudanças, como afirma a Secretária Municipal de Patrimônio Cultural e Turismo, Junia Melillo. Segundo ela, o plano inicial de outras gestões era dividir o espaço em pequenas salas de cinema, mas esse conceito foi descartado em favor de um projeto que mantivesse o palco principal e a ampla plateia adequados a grandes eventos. 


A fachada original foi preservada, as cadeiras foram reestofadas e um antigo projetor foi restaurado e colocado em exposição no hall de entrada. Mesmo diante de desafios como o desabamento de parte da fachada durante a obra, a estrutura foi reconstruída seguindo os moldes originais.


Inovações como a instalação de um elevador de carga para montagens cenográficas e a criação de uma sala de ensaios e um café externo foram incorporadas. A reforma, avaliada em mais de R$18,8 milhões, foi realizada com recursos do município e da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), conforme divulgado pela Prefeitura Municipal de Itabirito. 


O desafio agora, segundo Junia, será conciliar as exibições de cinema com as atividades teatrais. “Itabirito precisava de um palco grande e de uma plateia com capacidade significativa, e isso foi contemplado no projeto”, menciona.


Liz Bastos e sua contribuição para a cultura local


Emprestando seu nome ao Cine Teatro, Liz Cândida Bastos era uma musicista graduada pelo Conservatório Mineiro de Música.  Belorizontina de nascimento e itabiritense de coração, Liz chegou à cidade no início da década de 60 após se casar com o itabiritense Gilberto Alves Ferreira Bastos.



#ParaTodosVerem: Na imagem, é possível observar um quadro de Liz Bastos tocando piano  e olhando atentamente, com o uso de um óculos, um caderno musical com a partitura. Ao lado do quadro, uma legenda contando, de forma resumida, a história da musicista. Abaixo, fotografias e registros de Liz Bastos expostos em um aparador. Do lado direito, um arranjo de flores.
Liz Bastos também foi eternizada no espaço com fotografias, quadros e CDs autorais em exposição para o público. | Foto: Rian Vinícius

Dedicando grande parte de sua vida à música como pianista e professora, criou seu próprio método para ensinar crianças a tocar o instrumento e contribuiu para a formação de diversos artistas desde meados dos anos 60. Falecida em 2018, foi integrante do Coral Escadarias de Itabirito como pianista e chegou a receber o título de cidadã honorária do município como reconhecimento pelo esforço contínuo e pelos anos dedicados à cultura e formação de artistas locais. 


A proposta para que o espaço carregasse seu nome surgiu dos próprios familiares e amigos. O médico e ex-vice-prefeito da cidade Gilberto José Ferreira Bastos, filho de Liz Bastos e representante da família no evento de reinauguração, destaca a satisfação ao ver a figura de sua mãe eternizada no espaço que ela ajudou a construir culturalmente.“Ver o nome da minha mãe eternizado aqui é uma honra imensa. Quantas vezes ela esteve neste espaço, trouxe o balé, organizou apresentações e ajudou a construir a história deste lugar.”, menciona Gilbertinho, como é popularmente conhecido.


Para a sanfoneira Cida Lana, 82, que teve a oportunidade de conhecer Liz Bastos e dividir o palco com a mesma, as expectativas são altas. “Acho uma coisa maravilhosa ter um espaço como este para a cultura, é muito merecido. E o nome escolhido para o teatro também foi muito justo porque a dona Liz era uma artista, professora e uma pessoa muito especial.”, enfatiza.


Expectativa de renascimento cultural 


A reinauguração do Cine Teatro Liz Bastos marca um novo impulso para a cena cultural de Itabirito. Com o objetivo de revitalizar a arte local, o espaço passará a sediar uma variedade de manifestações culturais, tornando-se um ponto de encontro para a comunidade.


#ParaTodosVerem: Na fotografia, é possível ver a sala de cinema do Cine Teatro Liz Bastos por um plano aberto. No palco, algumas pessoas estão sentadas, enquanto um homem de terno preto faz um discurso. Bandeiras de Minas Gerais e do Brasil também estão presentes na imagem.
A reinauguração do Cine Teatro Liz Bastos contou com exibições de filmes, apresentações teatrais e concertos natalinos. | Foto: Reprodução Prefeitura de Itabirito

A expectativa da comunidade é que o Cine Teatro Liz Bastos não apenas se torne um palco para espetáculos, mas também um espaço de construção de novas histórias e experiências culturais. Luiza Magalhães, estudante de 20 anos que se apresentou no evento de reinauguração, enfatiza que “chega a ser algo emocionante”, dada a importância histórica do espaço para o município. Ela, que já esteve em outros teatros da região, menciona ainda que “a estrutura ficou maravilhosa e os novos equipamentos são de extrema qualidade”.

Assim como Luiza, a auxiliar de manutenção Maria Eduarda Santos, 20, é outra jovem itabiritense que se diz entusiasmada. Segundo ela, a esperança é de que a reabertura do Cine Teatro consiga aproximar ainda mais a população da cultura, tanto regional quanto nacional, além de ser um espaço que possa abrigar projetos culturais voltados para a juventude, com programas com os quais os jovens se identifiquem. 


(Serviço) O Cine Teatro fica localizado na Praça Coronel Baeta, 30, bairro Santa Tereza, Itabirito. Para mais informações, acesse os canais oficiais da Prefeitura de Itabirito.



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