top of page

CineOP celebra 20 anos, com destaque para o protagonismo feminino na comédia

  • Julia Zago e Juliana Siqueira
  • há 3 dias
  • 5 min de leitura

Ouça a notícia na íntegra:


Mostra de Cinema de Ouro Preto premia atriz Marisa Orth e realiza debates sobre o papel das mulheres no humor.


Há três pessoas na imagem, no lado direito e esquerdo temos duas mulheres, e no centro um homem, a mulher do lado direito está com um microfone na mão.
No Centro de Convenções da UFOP, jornalistas e estudantes de todo o Brasil marcaram presença na roda de conversa. | Foto: Julia Zago

A Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP) celebra sua 20ª edição com uma programação gratuita, iniciada no dia 25 de junho e com encerramento no dia 30. Dividida em três eixos temáticos, a mostra dedica o eixo “Histórica” à presença das mulheres no humor audiovisual, ainda amplamente dominado por vozes masculinas.


Homenageada desta edição, a atriz Marisa Orth participou da abertura ao lado da cineasta Anna Muylaert, com quem já contracenou em diversas produções. Juntas, elas integraram a mesa de conversa “O Humor das Mulheres”, realizada na manhã do dia 26 de junho, no Hall de Convivência do Centro de Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). O encontro foi um dos destaques do início da programação.


Durante a conversa, Marisa Orth refletiu sobre o humor como uma linguagem que traduz complexidades, e que nem sempre tem o riso imediato como seu principal objetivo. “Eu prefiro a comédia que mexe com meu cérebro, que às vezes vai me fazer rir só no dia seguinte, e isso não tem nada ver com elitismo”, afirmou a atriz, ao destacar o valor do chamado “humor inteligente”. Para ela, a construção do riso envolve uma relação sensível entre quem cria e quem assiste: “O riso é uma arma. Ele aponta que o rei está nu, e eu sou o menino que diz isso.”


Orth ainda comentou sobre a fragilidade e a força do humor no cinema. “Com o riso não se pode enganar. No drama você pode. Na comédia, ou funciona ou é um vexame completo”, afirma a atriz. A habilidade de provocar o riso, segundo ela, exige mais do que apenas ser engraçado. Exige reconhecer o que move esse sentimento, e é nesse reconhecimento que nasce a complexidade da arte cômica.


No Brasil, o humor é um dos gêneros que mais impulsionam o público aos cinemas. Segundo a Agência Nacional de Cinema (ANCINE), os filmes nacionais levaram 3,7 milhões de espectadores aos cinemas em 2023. Ainda no censo, quatro longa-metragens nacionais tiveram público superior a 300 mil espectadores, e desses quatro, dois são do gênero de comédia. Já no ano de 2024, foram 12,6 milhões de pessoas ocupando as salas de cinema, e dos cinco longas-metragens com maior público, Minha irmã e eu (2023) e Os farofeiros 2 (2024), filmes de comédia, conquistaram o segundo e terceiro lugar.


Segundo Marisa Orth, filmes clássicos do cinema brasileiro e do humor, como O Auto da Compadecida (2000) e Saneamento Básico (2007), são grandes inspirações para ela, e se destacam por combinar inteligência e leveza, conseguindo — como diz Orth — “trazer massa para os biscoitos finos” e encantar o público.


Há uma mulher branca, de cabelo castanho e olhos amendoados na foto. Ela veste uma camisa rosa.
Marisa Orth celebrou o seu retorno para Ouro Preto depois de anos: "Não tem como falar de Ouro Preto sem falar de magia, de encantamento, de história. É bonito demais." | Foto: Julia Zago

Anna Muylaert também compartilha essa busca por um olhar inteligente sobre o humor, presente em várias de suas produções. Um exemplo é seu primeiro curta-metragem, A Origem dos Bebês Segundo Kiki Cavalcanti (1995), um dos filmes selecionados para a Mostra do Ato de Abertura do CineOP. Na obra, a comédia é narrada pela perspectiva de uma menina de seis anos que observa, de forma sensível e irônica, a relação entre seus pais.


Muylaert contou sobre a sua relação com o humor no cinema, que vai muito além do elemento cômico. “Eu gosto de filmes que têm um aspecto sério e um aspecto engraçado. Acho que, na hora de criar, minha tendência foi procurar esse equilíbrio também. Aqueles filmes que são só comédia, eu não acho muita graça, e nem os dramalhões. Esse meio do caminho é o lugar que eu curto”, afirmou a diretora.


Orth complementou esse pensamento, enfatizando que o humor é capaz de fazer rir “tanto dos poderosos quanto dos subalternos”. No entanto, destacou que o riso não deve servir para oprimir ou humilhar aqueles em posição de desvantagem, mas sim para revelar e satirizar as desigualdades, denunciando injustiças de maneira criativa e crítica.


Há uma mulher branca, de cabelo cacheado, grisalho e solto, ela sorri na foto.
A relação de Marisa Orth e Anna Muylaert é extensa. Orth já contracenou em diversos filmes produzidos por Muylaert, como Durval Discos (2002) e É proibido fumar (2009). | Foto: Julia Zago

Muylaert também destacou o papel da curadoria do CineOP e a relevância da temática voltada para cineastas e produtoras mulheres. A visibilidade concedida ao humor feito por elas, afirmou, contribui tanto para o reconhecimento do trabalho feminino quanto para a reescrita da história da comédia no país, valorizando essas mulheres. 


“Mulheres que entram no audiovisual vão enfrentar as mesmas questões que enfrentam em qualquer outra área. O machismo estrutural é uma realidade, e precisamos estar conscientes dele para conseguir desestruturá-lo em cada relação e em cada trabalho”, afirmou Muylaert. 


Segundo a cineasta, reconhecer que todos somos formados dentro dessa lógica é o primeiro passo para transformá-la. “A distância entre homens e mulheres vai diminuindo a cada geração. Mas não dá pra entrar achando que estamos em pé de igualdade, porque não estamos”, observou.


Na coletiva de imprensa concedida após a roda de conversa, Marisa Orth relembrou sua trajetória em produções marcantes da comédia brasileira e celebrou o reconhecimento da presença feminina nesse gênero. “Você percebe que está sendo vista, e de forma crítica. Me fez pensar pra caramba, a gente fica feliz porque não caducou.”


Aos 61 anos, Orth reconhece a preservação e a educação no campo audiovisual, ao mesmo tempo em que valoriza o papel das mulheres no humor nacional. Para ela, o teatro e o cinema vivem um momento promissor no Brasil, com avanços em visibilidade e valorização. 


Abertura e homenagem


Durante o Ato de Abertura da 20ª edição da CineOP, realizado na noite de 26 de junho, o público foi brindado com uma apresentação leve e divertida, que arrancou risadas tanto da plateia quanto da homenageada da noite, Marisa Orth. A cerimônia, que mesclou vídeos comemorativos, momentos musicais e um clima descontraído, culminou na entrega do Prêmio Vila Rica, a mais alta honraria do evento, à atriz.


A homenagem teve um caráter simbólico e afetivo. Quem subiu ao palco para entregar o troféu foi João Antônio, filho de Marisa, em um gesto que emocionou a todos os presentes. Ao lado dele, também participou da cerimônia a cineasta Anna Muylaert, amiga de longa data da atriz, que selou sua fala com um breve e carinhoso “eu te amo”.


Visivelmente comovida, Marisa Orth agradeceu pelo reconhecimento a uma trajetória artística construída ao longo de mais de 40 anos. “Dizer que há mil anos, a gente estava aqui nessa praça, né, Ana? Então, voltar aqui nessa situação, sermos artistas reconhecidas e fazer parte de um evento tão importante é um sonho realizado”, declarou.


Um homem e duas mulheres, uma delas está segurando um troféu no centro de um palco com fundo colorido.
Marisa Orth recebe homenagem pelas mãos de seu filho João Antônio, que também é cineasta. | Foto: Julia Zago

Comments


bottom of page