Figura simbólica para a comunidade, Dona Ia dedicou parte de sua vida à preservação de um patrimônio histórico e religioso da cidade.
Nascida e criada em Mariana, a trajetória de Dona Ia é marcada pelo compromisso com a Capela de Santo Antônio, um dos mais importantes marcos históricos de Minas Gerais, erguida no final do século XVII e restaurada em abril de 2024. O monumento é considerado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a primeira Capela da Cidade de Mariana e o primeiro monumento religioso construído em Minas Gerais e está localizado às margens do Ribeirão do Carmo, no bairro Santo Antônio, onde foi celebrada a primeira missa do estado, em 1696.
Dona Ia relata como a capela, com suas paredes rachadas e em precárias condições, foi salva graças a uma mobilização comunitária e ao envio de fotografias atraves de um vizinho para o Ministério da Cultura em Brasília, DF, ao mesmo tempo que iniciativa do PAC das Cidades Históricas em Mariana e a Prefeitura Municipal da cidade atuou em conjunto. “A capela estava em péssimo estado. Aí eu pedi para tirar foto, o Fernando (vizinho). Ele tirou a foto e mandou para Brasília…para o Ministério, solicitando ajuda.” O apoio veio rapidamente, segundo ela. A arquiteta Anna Grammont, coordenadora do PAC das Cidades Históricas em Mariana, explicou que a elaboração do projeto de restauração da Capela contou com cerca de R$ 118 mil, disponibilizados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas. As obras foram financiadas com recursos do Ministério da Justiça, via Fundo de Direitos Difusos (FDD), que somaram R$ 1,3 milhão, além de uma contribuição de aproximadamente R$ 800 mil da Prefeitura de Mariana.
Padre Geraldo Dias Buziani, pároco da paróquia, reconhece o impacto significativo de Dona Ia nesse processo: “Ela possui um longo histórico de envolvimento com a comunidade e uma profunda dedicação ao cuidado da capela, além de seu trabalho pastoral e em outras atividades comunitárias.” Essa dedicação é evidente na recente restauração da capela, que incluiu melhorias na iluminação e no acesso ao Largo de Santo Antônio.
A importância de Dona Ia no trabalho comunitário é confirmada por familiares e amigos. Pedro Maurílio dos Santos, 72 anos, primo de Dona Ia, recorda: “Tenho 66 anos que moro nesta casa. Fomos criados juntos, sempre brincando, e fizemos catequese lado a lado. Dona Ia sempre foi uma pessoa muito carinhosa e ativa na comunidade. Ela tomava conta da capela, inicialmente junto com o Senhor Francisco, que morava perto de lá, e depois assumiu a responsabilidade sozinha. Durante a recente reforma da capela, que já era muito necessária, foi ela quem se encarregou de tudo, desde o início, para garantir que o projeto saísse do papel. Tivemos uma infância simples, mas cheia de amor e união, participando das quermesses da igreja e vivendo em uma comunidade muito mais unida.”
"A gente se conhece há mais de 60 anos," diz João Cristóvão Vilas Boas, de 78 anos, vizinho e amigo de Dona Ia. "Fomos criados juntos, eu ajudava o pai dela, Sr. Bilota, como servente de pedreiro, e sempre brincávamos e estudávamos juntos. Participamos das quermesses na igreja, e ela sempre mobilizou toda a comunidade, especialmente a geração antiga, para ajudar na paróquia. É uma pessoa muito boa mesmo."
Maria Delfina Braga Vilas Boas, 78 anos, casada há mais de 30 anos com o Sr. João Cristóvão, acrescenta: "Sem ela, a comunidade não teria resolvido a maioria dos problemas, como, luz e a falta de água que às vezes ocorre na capela. Ela está sempre tentando ajudar o próximo. Se acontece alguma coisa, pode ir até a casa dela e chamar. Se não fosse por ela, a reforma da paróquia não teria acontecido. Costumamos dizer que é a Ia quem decide as coisas da igreja, não a arquidiocese, porque ela é quem resolve tudo, quem limpa, quem zela. Tudo é ela."
A ligação de Dona Ia com a capela remonta à sua infância, quando ajudava seus pais na construção da casa familiar próxima ao local. Sua devoção à Santo Antônio motivou sua persistente dedicação à preservação da capela, assegurando que o legado histórico e religioso de Mariana fosse mantido para as futuras gerações.
A restauração da ermida de Santo Antônio, concluída este ano, é um testemunho da capacidade de uma pessoa em influenciar positivamente toda uma comunidade. “A expectativa é de que a comunidade possa usufruir deste bem da melhor maneira, tendo um espaço de lazer, pois não só a Capela, mas também todo o Largo de Santo Antônio foi revitalizado. Ele recebeu uma nova iluminação e um acesso adequado. Então, é um local para contemplação, é um local de fé, a Capela e o Largo em conjunto. Então, eu espero que essas mudanças sejam positivas e que a comunidade possa usufruir desse bem preservado da melhor maneira”, acredita Carlos Antunes, fiscal da obra de restauração da Capela de Santo Antônio.
Hoje, a Capela de Santo Antônio, revitalizada e com sua história renovada, simboliza a perseverança de Dona Ia e seu compromisso com o patrimônio cultural de Mariana. Sua trajetória é uma inspiração, mostrando a importância de preservar nossas raízes para que futuras gerações possam se orgulhar e se conectar com seu passado.
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