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Felipe Rayann e Henrique Gontijo

Museu da Inconfidência recebe exposição para resgate da memória enterrada pela mineração

“Paisagens Mineradas” aborda, através da arte, as consequências da atividade mineradora


#ParaTodosVerem: Na imagem há um bloco construído a partir de barro e pedras pequenas na cor marrom claro. O corpo do bloco tem aproximadamente 50 centímetros de largura e altura. No centro dele, há uma tela, com o tamanho de um celular, que contém a imagem de uma escavadeira levando terra para frente.
Obra de Isadora Canela, intitulada “Corpo-Terra”, relaciona o corpo da terra violada ao corpo da mulher | Foto: Felipe Rayann

No mês de novembro, marcado pelos nove anos do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana (MG), a cidade de Ouro Preto recebe a exposição “Paisagens Mineradas”, que conta com doze artistas expositoras. A mostra exibe diversas obras que nos convidam a lembrar das consequências da mineração, incluindo pinturas, esculturas, fotografias, instalações, videoarte e obras sonoras. A exposição está acontecendo no anexo do Museu da Inconfidência com entrada gratuita até 15 de março.


A organização do evento surgiu a partir do luto dos idealizadores do Instituto Camila e Luiz Taliberti (ICLT), que perderam seus parentes em decorrência do crime ambiental. “Paisagens Mineradas” tem como objetivo reivindicar que a memória do local destruído e das vidas perdidas não se apaguem. Para Marina Kilikian, coordenadora do projeto pelo ICLT, pelo fato da mineração ser intrínseca à história de Minas Gerais, pode correr o risco de que o crime ambiental seja esquecido. “A gente quer lembrar, para que não ocorra novamente, e a gente quer justiça, porque a impunidade é aval para que ocorra novamente”.


#ParaTodosVerem: Na imagem há uma cômoda com duas gavetas abertas. Pelas gavetas estão saindo centenas de carteiras de identidade, uma para cada vítima do rompimento da barragem. Os documentos alinhados, formam duas grandes colunas em formato de “V” que cobrem a mesa inteira. À esquerda, uma mulher olha e gesticula. Ao fundo, está outra obra da exposição, simulando um labirinto.
Em “270”, a artista Mari de Sá organiza gavetas em formato de “V”, em uma referência ao nome da mineradora Vale | Foto: Felipe Rayann

Uma das premissas básicas para a curadoria das doze artistas, foi a diversidade sensorial explorada por cada uma das expositoras. Para Isadora Canela, curadora e expositora, a arte tem um papel fundamental para trazer o resgate da memória e a sensibilização do público: “Não existe outra forma senão a arte. A arte traz a possibilidade do imaginário como matéria”. Além disso, para ela é muito importante que “Paisagens Mineradas” aconteça no Museu da Inconfidência, pois é uma oportunidade para que o outro lado da história, o das artistas, exponham seu ponto de vista e suas dores. “A gente vê a nossa cicatriz, mas a gente não é nossa cicatriz”.


O Museu, antes de ser museu, era a casa de câmara e cadeia de Vila Rica, atual Ouro Preto, representando o centro jurídico e administrativo de uma cidade que empoçou na mineração, no ciclo do ouro. A atual curadora do Museu da Inconfidência, Carla Cruz, identifica que é fundamental a participação do Museu na exposição, pois é uma oportunidade de revisão e resgate de uma história deixada de lado. O Museu está passando por um reposicionamento institucional, como conta Carla, o que possibilitou a exposição acontecer dentro dos seus espaços. Estão sendo priorizadas escutas de coletivos, de mulheres, de povos originários e de coletivos afro brasileiros, para, segundo ela, “identificar de que modo a invisibilidade dessas pessoas ao longo da história possam ser reparadas, de algum modo, ao trazer a história dessas  pessoas para dentro do museu”.


#ParaTodosVerem: Na imagem há uma mulher vestindo uma camisa branca, tirando uma foto de uma arte que está pendurada na parede. A parede é branca, a arte é um bordado com três imagens na cor laranja, que representam pedras, árvores e a flora.
Legenda: Na obra da Associação das Senhoras Artesãs de Ouro Preto (ASA) são bordadas plantas e árvores que habitavam a região antes de o território ser varrido pelo rompimento da barragem. | Foto: Felipe Rayann

O recurso financeiro que possibilitou a realização da exposição vem de uma multa aplicada pela Justiça do Trabalho à empresa  Vale, responsável pelo rompimento da barragem de Brumadinho. O Instituto Camila e Luiz Taliberti, a fim de ter acesso ao recurso, entrou em contato com a Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo rompimento da barragem de Brumadinho, a AVABRUM, que conta com um comitê responsável por gerenciar o dinheiro que vem dessa multa. Só então, junto à Justiça do Trabalho e à Defensoria Pública da União, que conseguiram disponibilizar a verba para a realização da “Paisagens Mineradas”. 

       

Por meio da arte, organizações independentes comprometidas com a memória deixada pela Vale S.A., se uniram para realizar uma exposição que evidencia os aspectos negativos de um estado dominado pela mineração. Nayara Ferreira, presidente da AVABRUM, disse: “Tudo que não é visto não é lembrado”, no sentido da importância de manifestações que evidenciam os responsáveis pelo rompimento da barragem. “Porque vão estar lembrando esses episódios que não podem se apagar jamais”.    




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