“Paisagens Mineradas” aborda, através da arte, as consequências da atividade mineradora
No mês de novembro, marcado pelos nove anos do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana (MG), a cidade de Ouro Preto recebe a exposição “Paisagens Mineradas”, que conta com doze artistas expositoras. A mostra exibe diversas obras que nos convidam a lembrar das consequências da mineração, incluindo pinturas, esculturas, fotografias, instalações, videoarte e obras sonoras. A exposição está acontecendo no anexo do Museu da Inconfidência com entrada gratuita até 15 de março.
A organização do evento surgiu a partir do luto dos idealizadores do Instituto Camila e Luiz Taliberti (ICLT), que perderam seus parentes em decorrência do crime ambiental. “Paisagens Mineradas” tem como objetivo reivindicar que a memória do local destruído e das vidas perdidas não se apaguem. Para Marina Kilikian, coordenadora do projeto pelo ICLT, pelo fato da mineração ser intrínseca à história de Minas Gerais, pode correr o risco de que o crime ambiental seja esquecido. “A gente quer lembrar, para que não ocorra novamente, e a gente quer justiça, porque a impunidade é aval para que ocorra novamente”.
Uma das premissas básicas para a curadoria das doze artistas, foi a diversidade sensorial explorada por cada uma das expositoras. Para Isadora Canela, curadora e expositora, a arte tem um papel fundamental para trazer o resgate da memória e a sensibilização do público: “Não existe outra forma senão a arte. A arte traz a possibilidade do imaginário como matéria”. Além disso, para ela é muito importante que “Paisagens Mineradas” aconteça no Museu da Inconfidência, pois é uma oportunidade para que o outro lado da história, o das artistas, exponham seu ponto de vista e suas dores. “A gente vê a nossa cicatriz, mas a gente não é nossa cicatriz”.
O Museu, antes de ser museu, era a casa de câmara e cadeia de Vila Rica, atual Ouro Preto, representando o centro jurídico e administrativo de uma cidade que empoçou na mineração, no ciclo do ouro. A atual curadora do Museu da Inconfidência, Carla Cruz, identifica que é fundamental a participação do Museu na exposição, pois é uma oportunidade de revisão e resgate de uma história deixada de lado. O Museu está passando por um reposicionamento institucional, como conta Carla, o que possibilitou a exposição acontecer dentro dos seus espaços. Estão sendo priorizadas escutas de coletivos, de mulheres, de povos originários e de coletivos afro brasileiros, para, segundo ela, “identificar de que modo a invisibilidade dessas pessoas ao longo da história possam ser reparadas, de algum modo, ao trazer a história dessas pessoas para dentro do museu”.
O recurso financeiro que possibilitou a realização da exposição vem de uma multa aplicada pela Justiça do Trabalho à empresa Vale, responsável pelo rompimento da barragem de Brumadinho. O Instituto Camila e Luiz Taliberti, a fim de ter acesso ao recurso, entrou em contato com a Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo rompimento da barragem de Brumadinho, a AVABRUM, que conta com um comitê responsável por gerenciar o dinheiro que vem dessa multa. Só então, junto à Justiça do Trabalho e à Defensoria Pública da União, que conseguiram disponibilizar a verba para a realização da “Paisagens Mineradas”.
Por meio da arte, organizações independentes comprometidas com a memória deixada pela Vale S.A., se uniram para realizar uma exposição que evidencia os aspectos negativos de um estado dominado pela mineração. Nayara Ferreira, presidente da AVABRUM, disse: “Tudo que não é visto não é lembrado”, no sentido da importância de manifestações que evidenciam os responsáveis pelo rompimento da barragem. “Porque vão estar lembrando esses episódios que não podem se apagar jamais”.
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