Dentre as atividades culturais realizadas em celebração à consciência negra no mês de novembro em Ouro Preto, oficina de ourivesaria resgata as origens da produção de joias no Brasil
No último sábado de novembro (30), aconteceu a Oficina de Ourivesaria Novembro Negro 2024, promovida pela Coordenadoria de Joalheria (CODAJOIA) do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) em parceria com a Diretoria de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria de Cultura e Turismo de Ouro Preto (PMOP). Realizada no Campus Ouro Preto do IFMG, a oficina, gratuita e aberta à comunidade, buscou valorizar a contribuição da cultura africana na ourivesaria.
A ourivesaria é uma seção da joalheria que lida exclusivamente com a manipulação dos metais, especialmente cobre, prata e ouro, para a confecção de joias e ornamentos. Para conceber a oficina, Bruna dos Santos, 31, artesã e ourives, contou que a proposição da atividade foi uma tentativa de resgate da ancestralidade negra para o ofício, considerando principalmente a cidade de Ouro Preto que, de acordo com o último Censo (2022), 70% da população ouro-pretana se autodeclarou preta ou parda.
A população africana foi responsável por introduzir a fundição de metais no Brasil, ainda colônia. Andréa Lisly Gonçalves, professora do departamento de história da Universidade Federal de Ouro Preto, em seu artigo “Escravidão, herança ibérica e africana e as técnicas de mineração em Minas Gerais no século XVIII”, relata que os portugueses buscavam etnias específicas para o trabalho forçado na mineração na capitania de Minas Gerais. 50% dos escravizados eram povos da região da Costa da Mina, região que desenvolveu com excelência a exploração do ouro nos séculos IX e X.
“Eu sinto que é muito importante para o povo preto se reconectar com os metais preciosos. Eles vieram da África e detinham todo esse conhecimento que foi retirado deles. Agora, nós estamos tentando nos reconectar, virar para trás e buscar o que é nosso e nos pertence”, afirmou Bruna dos Santos, idealizadora da oficina. Tacimira do Carmo, 25, agricultora familiar, compartilha desse mesmo pensamento. Segundo ela, “Estar aqui hoje é me conectar com os meus parentes de sei lá quantos anos. É restaurar em mim a força para fazer essas artes. Para mim, é sinônimo de realeza, é sinônimo de pertencimento.”
Para Benedito Devêza, 66, professor de joalheria artesanal do IFMG Ouro Preto, a ourivesaria envolve processos e maquinários custosos, o que contribui para a elitização do ofício. Ele destaca que o Instituto Federal de Ouro Preto é o único que oferece cursos de joalheria em nível federal. Portanto, oficinas de ourivesaria como essa são importantes porque encorajam os participantes a buscarem uma formação profissional ímpar.
Na oficina oferecida, os monitores, alunos dos cursos de joalheria do IFMG, demonstraram como é feita a fundição e a laminação dos metais que compõem a liga de prata 950 (95% prata e 5% cobre). Assim, os inscritos da oficina puderam acompanhar de perto todo esse processo inicial para, em seguida, começarem os trabalhos individuais: a fase de cortes das lâminas. Cada participante pôde soldar, modelar, limar e polir suas peças. Para a artesã e monitora da oficina, Nathalie Fontoura, 30, a oficina é uma possibilidade de troca e reafirmação do saber: “Faz parte do processo de aprendizagem compartilhar o conhecimento que eu aprendi. A gente aprende mais e pode devolver o que recebemos aqui no curso.” Ao final, cada oficineiro produziu uma aliança de prata personalizada.
Nota/Serviço
O IFMG campus Ouro Preto oferece cursos curtos de Formação Inicial Continuada (FIC) em design de joias, joalheria artesanal e lapidação de gemas, que exigem ensino fundamental completo, além do curso técnico subsequente em joalheria, que exige nível médio completo. A instituição oferece 12 vagas por ano e a duração do curso é de quatro semestres.
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