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Emanuel Marcelino e Maria Teresa Carvalho

Oficina reconecta artesãos à cultura africana

Atualizado: 11 de dez. de 2024

Dentre as atividades culturais realizadas em celebração à consciência negra no mês de novembro em Ouro Preto, oficina de ourivesaria resgata as origens da produção de joias no Brasil


No último sábado de novembro (30), aconteceu a Oficina de Ourivesaria Novembro Negro 2024, promovida pela Coordenadoria de Joalheria (CODAJOIA) do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) em parceria com a Diretoria de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria de Cultura e Turismo de Ouro Preto (PMOP). Realizada no Campus Ouro Preto do IFMG, a oficina, gratuita e aberta à comunidade, buscou valorizar a contribuição da cultura africana na ourivesaria.


DESCRIÇÃO: Três homens estão em um laboratório, manuseando ferramentas e peças pequenas em uma mesa de trabalho. Dois usam jalecos brancos e lupas de cabeça, enquanto ajudam o terceiro, que está sentado com uma lupa similar. A bancada está repleta de instrumentos e materiais, com luz natural entrando pelas janelas ao fundo.
Professores de joalheria auxiliam participante da oficina | Foto: Maria Teresa Carvalho

A ourivesaria é uma seção da joalheria que lida exclusivamente com a manipulação dos metais, especialmente cobre, prata e ouro, para a confecção de joias e ornamentos. Para conceber a oficina, Bruna dos Santos, 31, artesã e ourives, contou que a proposição da atividade foi uma tentativa de resgate da ancestralidade negra para o ofício, considerando principalmente a cidade de Ouro Preto que, de acordo com o último Censo (2022), 70% da população ouro-pretana se autodeclarou preta ou parda.


A população africana foi responsável por introduzir a fundição de metais no  Brasil, ainda colônia. Andréa Lisly Gonçalves, professora do departamento de história da Universidade Federal de Ouro Preto, em seu artigo “Escravidão, herança ibérica e africana e as técnicas de mineração em Minas Gerais no século XVIII”, relata que os portugueses buscavam etnias específicas para o trabalho forçado na mineração na capitania de Minas Gerais. 50% dos escravizados eram povos da região da Costa da Mina, região que desenvolveu com excelência a exploração do ouro nos séculos IX e X.


“Eu sinto que é muito importante para o povo preto se reconectar com os metais preciosos. Eles vieram da África e detinham todo esse conhecimento que foi retirado deles. Agora, nós estamos tentando nos reconectar, virar para trás e buscar o que é nosso e nos pertence”, afirmou Bruna dos Santos, idealizadora da oficina. Tacimira do Carmo, 25, agricultora familiar, compartilha desse mesmo pensamento. Segundo ela, “Estar aqui hoje é me conectar com os meus parentes de sei lá quantos anos. É restaurar em mim a força para fazer essas artes. Para mim, é sinônimo de realeza, é sinônimo de pertencimento.”


Em uma sala de aula de joalheria, uma mulher com um lenço colorido nos cabelos ensina outra mulher de cabelos cacheados como trabalhar em uma peça de metal. Ambas estão inclinadas sobre uma bancada cheia de ferramentas. Ao fundo, outras pessoas também estão ocupadas em suas bancadas, criando ou ajustando joias. A iluminação é suave e há várias luminárias articuladas nas mesas.
Bruna dos Santos orienta a confecção de Tacimira do Carmo | Foto: Maria Teresa Carvalho

Para Benedito Devêza, 66, professor de joalheria artesanal do IFMG Ouro Preto, a ourivesaria envolve processos e maquinários custosos, o que contribui para a elitização do ofício. Ele destaca que o Instituto Federal de Ouro Preto é o único que oferece cursos de joalheria em nível federal. Portanto, oficinas de ourivesaria como essa são importantes porque encorajam os participantes a buscarem uma formação profissional ímpar.


Na oficina oferecida, os monitores, alunos dos cursos de joalheria do IFMG, demonstraram como é feita a fundição e a laminação dos metais que compõem a liga de prata 950 (95% prata e 5% cobre). Assim, os inscritos da oficina puderam acompanhar de perto todo esse processo inicial para, em seguida, começarem os trabalhos individuais: a fase de cortes das lâminas. Cada participante pôde soldar, modelar, limar e polir suas peças. Para a artesã e monitora da oficina, Nathalie Fontoura, 30, a oficina é uma possibilidade de troca e reafirmação do saber: “Faz parte do processo de aprendizagem compartilhar o conhecimento que eu aprendi. A gente aprende mais e pode devolver o que recebemos aqui no curso.” Ao final, cada oficineiro produziu uma aliança de prata personalizada.


Nota/Serviço

O IFMG campus Ouro Preto oferece cursos curtos de Formação Inicial Continuada (FIC) em design de joias, joalheria artesanal e lapidação de gemas, que exigem ensino fundamental completo, além do curso técnico subsequente em joalheria, que exige nível médio completo. A instituição oferece 12 vagas por ano e a duração do curso é de quatro semestres.



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