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Érika Vicentini

Ensaio | Se tem placa, tem história: Crime e Resistência em Bento Rodrigues

Atualizado: 9 de nov.

I. O Bento que ainda pulsa 


Ir ao local de origem de Bento Rodrigues atualmente é encontrar duas realidades:  uma bastante abandonada, e outra que luta para permanecer e se reerguer ininterruptamente. Hoje, a maior parte do antigo distrito está tomado pela vegetação plantada, segundo seus moradores, pela Fundação Renova, e por animais, tanto de criações que voltaram a povoar suas terras, quanto os nativos, que já existiam lá antes do crime minerário, e insistem em continuar habitando ali. O vazio do local é preenchido pela esperança e resistência daqueles que não cogitam sair de lá, por endereços perdidos e casas destruídas não só pela lama, mas também pelos saqueamentos que levaram portas, janelas, telhas, móveis e, até mesmo, os números dessas residências.



II. A  saudade que é mais forte

 

Todo final de semana, moradores do antigo Bento voltam ao distrito e o ocupam novamente. A pedido deles, nos eventos religiosos que acontecem por lá, são sempre instalados geradores de energia junto com luzes provisórias que iluminam outra vez os caminhos da saudade. Fora dessas datas, um sistema de captação de energia solar, também conquistado pelos moradores locais, permite que passem vários dias ali com o conforto possível.



III. Perigo velado e um lembrete do desastre


Submergindo parte do território e criando uma paisagem artificial, a mineradora montou diques sob o pretexto de impedirem que os rejeitos continuassem escoando e (re)contaminando os mananciais hidrográficos já tão comprometidos. As placas de Rota de Fuga são um lembrete silencioso, assustador e agora irônico, já que foram instaladas após toda a devastação ocorrida para alertar sobre a periculosidade da região. As placas também denunciam a presença opressiva da mineradora, indicando as áreas da Vale, acionista da Mineradora Samarco junto com a anglo australiana BHP.



IV. O antigo não se apaga


É possível também perceber a tentativa de um apagamento do antigo Bento Rodrigues. O esquecimento vem principalmente do impedimento de restauração plena do distrito e a ilusória substituição de tudo pelo “belo” reassentamento.  



V. Sim, eles resistem


Em meio a tudo isso também é possível ver sinais da resistência da população do Bento original. Lembrar o desastre que aconteceu e demonstrar o verdadeiro direito sobre a terra reforçam a lembrança de que aquele lugar tem história e ainda existe. A comunidade não se cansa da luta porque Bento Rodrigues sempre será o seu lar.



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