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Maria Eduarda Muricy

Holofote | Alquimia Jornalística no Novo Lampião

Atualizado: 9 de nov.

A 44ª edição do Jornal Laboratório Lampião marca um ponto de virada da disciplina e do recém implantado projeto pedagógico do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto. A partir de uma nova fórmula, inaugurada justamente nesta edição, o jornal teve que se adaptar e promover mudanças significativas na sua forma de produção. 


Com a extensão sendo integrada à disciplina do Lampião, os repórteres foram impelidos a criar e manter contatos e vínculos com as comunidades atingidas pela Barragem de Fundão, das mineradoras Vale e BHP, donas da Samarco. Alguns atingidos e atingidas pelo desastre-crime foram, pessoalmente, até a redação antes da produção realmente se iniciar. Durante a visita, conversaram com os repórteres, diretores e editores sobre suas experiências, impressões e expectativas relacionadas ao jornalismo que retrata o ocorrido e seus desdobramentos até os dias de hoje. E propuseram diversas pautas para o jornal avaliar depois se e como trabalhá-las.  


Neste quesito, o jornal acerta em cheio ao considerar, antes de tudo, as necessidades da população em relação a um jornalismo de qualidade e que deve ser para o povo, não somente sobre o povo. A visita dos atingidos não serviu apenas como pontapé inicial para a produção. Ela se mostra, também, como ponto de retomada para os repórteres, que contaram com os visitantes em diversos outros momentos da jornada. No final, o Lampião se mostra como um jornal que escreve sobre o povo. Mas, ele realmente escreve para o povo? 


Diante do foco hiperlocal da produção, o Lampião também se sai muito bem. No decorrer de quatro ciclos produtivos, durante pouco mais de dois meses e meio, e sempre se fiando em três seções temáticas - ECOS, URBE e LUME -, em momento algum o Lampião deixa de produzir conteúdo relevante sobre a região de Mariana, Ouro Preto e seus arredores. Porém, ainda peca na forma de escrever esses conteúdos, pensando que sua atuação é destinada, principalmente, à comunidade local. Especialmente quando se trata de economia ou política, é inevitável encontrar termos rebuscados e, muitas vezes, desconhecidos pelo público geral. Por isso, seria interessante se os repórteres exercitassem um olhar mais cuidadoso neste sentido. Uma forma fácil de facilitar o entendimento e compreensão dos textos é destrinchar e explicar termos jurídicos, siglas e palavras estrangeiras. Além disso, também ajudaria a tornar o jornal mais acessível se fosse feita a opção por uma construção textual simples e direta, com períodos menores e mais objetivos. 


Outro diferencial nessa reformulação é a intenção de produzir uma edição mais noticiosa, em que a factualidade fosse critério determinante de uma pauta. No geral o Lampião mostra um bom desempenho neste quesito, mas algumas matérias se distanciam, às vezes, da proposta inicial. Com títulos generalistas, pouco reveladores e esclarecedores, e textos que retomam diversos contextos anteriores para tratar de uma questão pontual e atual, as matérias extensionistas, muitas vezes, esbarram na modalidade reportagem, que a princípio não seria o foco, como em edições anteriores. Isso não necessariamente tira o caráter factual das matérias, mas, talvez, fosse necessário então abrir espaço para reportagens que tratam de questões tão complexas e importantes, como a saúde mental das populações atingidas, por exemplo. 


Por fim, principalmente por ser a primeira edição após a atualização do currículo do curso de Jornalismo, a 44ª edição do Lampião atende bem às novas propostas da disciplina, mesmo que ainda sejam necessários ajustes. Mesmo com o que foi pontuado, enxerga-se uma edição que se esforça e que consegue se aproximar do público principal: aqueles que vivem tudo que foi apurado, escrito, gravado e publicado neste jornal.

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