Holofote | A edição 46 e o florescer de nossos objetivos
- Ingrid Dias
- há 18 horas
- 6 min de leitura
46ª edição
Ouça o Holofote na íntegra:
Nesta 46ª edição do Jornal Laboratório Lampião, buscamos aprimorar a qualidade e credibilidade do jornal. Após duas edições anteriores realizadas já na nova estrutura curricular do curso de jornalismo da UFOP, esta edição avançou em ideias e produções propostas desde as edições 44 e 45. Porém, mesmo com os avanços pontuados na coluna editorial, percebe-se ainda a necessidade de melhorar alguns aspectos na construção e produção do Lampião. Por isso, pontuamos algumas ausências notadas durante essa edição, como: pluralidade e respeito às fontes, origem das pautas, produção das notas semanais, produção de imagens e os conteúdos para as redes digitais.
Sobre a questão referente à pluralidade de fontes, vamos voltar ao início das atividades quando recebemos os membros da Comissão dos Atingidos pela Barragem do Fundão (CABF) para um bate-papo sobre a cobertura das matérias e a abordagem das fontes ligadas ao desastre-crime. Algo sempre debatido na redação é a forma como abordamos as fontes para produção das matérias e, no começo desta edição, surgiu uma cobertura urgente relacionada à CABF. A disponibilidade das editoras para desenvolver a pauta foi imediata e, por isso, logo no começo da 46ª edição já tínhamos uma primeira publicação quentinha. Porém, a matéria precisou passar por alguns ajustes após ser publicada, pois a construção do texto não era condizente com as informações passadas pelas fontes.
Outro ponto sobre a diversidade das fontes nas matérias relacionadas ao desastre-crime, foram as produções que buscaram trazer uma maior diversidade de vozes e assuntos, pautando temas sobre as vivências e o cotidiano das pessoas atingidas. Essas matérias revelaram a importância de avançar em produções que dialoguem com a vivência dos moradores da Região dos Inconfidentes para além do campo cultural. De certa forma, e de maneira bastante positiva e curiosa, isso impactou diretamente no engajamento do site, pois as produções que tiverem maior visibilidade e alcance foram as que tratavam de questões e abordagens referentes ao cotidiano da população. Um exemplo é a matéria “Reassentados de Paracatu cultivam quintais e mantêm vínculo com a terra”, que trouxe ampla pluralidade de fontes e abordou um tema que envolve e impacta diretamente a população da região.
Durante as atividades da 46ª edição, observamos matérias que pautaram temas já abordados em edições anteriores do Lampião, como a qualidade do transporte público e o descaso da gestão municipal com o programa Tarifa Zero. Só nesta edição foram duas matérias produzidas sobre tais assuntos, além de outras já realizadas nas edições anteriores. Pautar o mesmo objeto sem trazer novas abordagens ou atualizações sobre o tema é cair na mesmice, como os debates sobre o Tarifa Zero de Mariana e o Tarifa Única de Ouro Preto. Novas angulações são sempre possíveis e louváveis, porém é importante refletir sobre a construção do texto para que o Jornal Lampião não se perca na assessoria para essas instituições, órgãos ou empresas. Afinal, o objetivo do Lampião é informar com imparcialidade os diversos aspectos e decisões que afetam os moradores da região dos Inconfidentes.
Apesar da pouca novidade no conteúdo, vale destacar como ponto positivo o comentário de uma moradora no Instagram do jornal. Ela compartilhou sua experiência com o serviço de transporte e destacou a importância da matéria. Esse retorno, entre outros que recebemos durante a produção, ajudam na formação jornalística do Lampião. Por isso, é importante propor pautas que abordam a rotina e vivência dos cidadãos e cidadãs, e produzir matérias com pluralidade, diversidade e respeito às fontes e aos nossos leitores.
Algumas matérias produzidas ao longo dessa edição foram pautadas através do Instagram pessoal do prefeito de Mariana, ou mesmo da Prefeitura. O desinteresse, ou mesmo preguiça, de alguns repórteres em procurar outros caminhos para pautar assuntos relevantes para a região ficava claro nas reuniões de pautas, especialmente quando professores e editores questionavam sobre uma apuração mais aprofundada, para além da rede social do prefeito. Além disso, trazer pautas com base nas publicações do prefeito ou baseadas apenas nas redes sociais sem qualquer aprofundamento crítico ou busca por outras fontes de informação, corre-se o risco de cair novamente em assessoria de comunicação, algo que contraria a proposta editorial e a função formativa do Lampião.
Outro ponto a ser repensado em futuras edições são as notas semanais da primeira semana de produção. Como a atividade aconteceu no mesmo período em que a equipe de editores ainda estava construindo a identidade da nova edição e organizando os processos, a produção e publicação das 28 notas escritas pelas 14 duplas de repórteres foi algo extenuante. A grande quantidade de material informativo produzido para ser publicado junto e de uma só vez não é muito atraente para o leitor, pois acaba se tornando uma extensa lista de notas sobre diversos eventos que se perdem neles mesmos. Além disso, foram necessárias duas publicações na seção temática RADAR e quatro artes em carrossel no Instagram, o que acredito ter prejudicado o alcance do material.
Depois que a redação começou a seguir um ritmo de produção equilibrado, percebemos que ficou mais dinâmico e menos cansativo para as duplas de repórteres. Entretanto, ao longo dos ciclos, a cobertura de acontecimentos em Itabirito deixou de ser produzida. Nesta edição, como todos os membros do Lampião eram residentes em Mariana ou Ouro Preto, isso refletiu na determinação das pautas e nas matérias produzidas. Assim, coube somente ao RADAR trazer algumas poucas notas sobre os acontecimentos de Itabirito.
Também é importante destacar o cuidado na forma de produzir as notas, pois, ao longo da 46ª edição, editores e professores chamaram a atenção e derrubaram conteúdos que estavam muito direcionados como assessoria de comunicação. Em outras matérias, como aquelas que abordam conteúdos culturais, era perceptível o estilo e angulação que indicava assessoria nas pautas propostas e nas matérias produzidas pelos repórteres. Isso acontece principalmente pela falta de cuidado, pelo acesso a poucas fontes ou até mesmo por não ter boa vontade para refletir sobre o processo de produção jornalística, como a leitura crítica dos assuntos, a busca pela imparcialidade, a escuta do contraditório e a fuga do jornalismo declaratório. O Jornal Lampião se propõe a esclarecer as dúvidas, informar e pontuar a realidade da região para a população, e, no estilo “assessoria”, esses princípios acabam não sendo seguidos.
No Holofote da edição anterior do jornal, a 45ª, um ponto levantado foi a utilização de imagens geradas por Inteligência Artificial (IA). Nesta edição, observa-se que os repórteres foram em campo e produziram as próprias imagens, mas ainda tivemos o uso de diversas fotos vindas de arquivo das próprias fontes. O resultado é a publicação de imagens com baixa resolução e sem qualidade técnica e estética, além de não serem adequadas para compor a matéria. Isso faz supor o desinteresse por parte da equipe de reportagem que, por não se deslocar ao local do acontecimento pautado ou por não se encontrar diretamente com as fontes, acaba propondo um método paliativo insuficiente ao conteúdo. Espera-se que, nas próximas edições, as coberturas fotográficas deixem as imagens produzidas com a “cara” da edição e das equipes de repórteres que produzem o jornal.
Esta 46ª edição também deixou de engajar os conteúdos produzidos em outras plataformas além do Instagram, pois o jornal possui perfis inoperantes no LinkedIn, no X (antigo twitter) e no TikTok. Ademais, não tivemos avanços para recuperar a antiga ou criar uma nova conta no Facebook, plataforma que a população da região utiliza bastante e que a própria equipe editorial considerou fundamental para postagens. Os conteúdos para YouTube também foram poucos, especialmente se comparados com as produções sonoras para o Spotify. Isso é um ponto a ser repensado como ampliação da acessibilidade para as pessoas que não utilizam a plataforma de áudio. Sugere-se, portanto, postar também no YouTube as matérias produzidas no formato sonoro.
Por último, é importante destacar os avanços que essa edição trouxe em relação à nova identidade do Lampião que vem sendo construída ao longo dos três últimos semestres, consolidando o jornal como uma voz das comunidades, em especial daquelas menos favorecidas. O trabalho do jornalista é sempre buscar melhorar a qualidade dos produtos que entrega à população e, por isso, pontuar os avanços que ainda precisam ser alcançados torna possível a evolução editorial, ampliando a credibilidade e trazendo melhorias para os conteúdos jornalísticos veiculados.
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