Exposição em Ouro Preto celebra 200 anos de Bernardo Guimarães
- Ana Xavier e Sabrine Varjão
- 11 de ago.
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Atualizado: 20 de ago.
46ª edição
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A mostra “Muito além de Escrava Isaura”, que acontece no museu Casa dos Contos, resgata legado do escritor ouropretano e fica em cartaz até o dia 17 de agosto.

Combinando arte gráfica e memória literária para homenagear Bernardo Guimarães, patrono da quinta cadeira da Academia Brasileira de Letras (ABL), a mostra “Muito além de Escrava Isaura” expõe quadros dos artistas Aurélio dos Santos e Leandro Vilar, do Atelier Dois Capelistas. As peças revelam um mergulho estético em obras pouco conhecidas do autor ouropretano.
A exposição também marca o início da “Semana Bernardo Guimarães”, idealizada pelos dois artistas em parceria com a Editora Liberdade. A programação da comemoração do bicentenário de nascimento do escritor e poeta inclui mesa-redonda, sarau, passeios culturais e o lançamento do livro Miscelânea, nos passos de Bernardo Guimarães, produzido pelo Dois Capelistas junto com a pesquisadora e editora Maria Francelina Drummond.
“A proposta é celebrar os 200 anos de Bernardo para além da Escrava Isaura. Muitas pessoas ainda não conhecem sua obra de forma mais ampla e a exposição busca justamente despertar esse interesse”, afirma o museólogo Ygor Fortes, responsável pela curadoria, em parceria com o Instituto Peck Pinheiro.
A mostra apresenta ilustrações em bico de pena que reinterpretam crônicas, poesias, críticas e contos de Bernardo Guimarães. “Ele era muito visual. A gente só precisava ler, que a imagem já se formava. Foi uma delícia ilustrar. A gente queria que tivesse uma cara de livro antigo, por isso escolhemos o bico de pena e a tinta nanquim. É uma técnica antiga, mas carrega o cuidado de ilustrar com o mesmo zelo de obras clássicas brasileiras”, explica o artista Leandro Vilar.

Além das releituras literárias, algumas ilustrações em exposição também retratam episódios documentados da vida de Bernardo Guimarães, ampliando a imersão do público na trajetória do autor. Exemplo disso é a denominação da rua onde Bernardo Guimarães morou e a curiosidade do fato deu origem a uma das telas mais bem-humoradas da mostra.
Na obra, o autor aparece disputando a placa da via com o inconfidente Alvarenga Peixoto. A cena, ilustrada com ironia, lança um olhar crítico sobre as escolhas simbólicas dos governantes da cidade. “Em 1884, quando ele morreu, os vereadores chegaram a apresentar um projeto na Câmara para dar o nome de Bernardo Guimarães à rua que hoje é a Alvarenga”, relata Leandro.

Embora dialogue com diversas facetas da produção de Bernardo Guimarães, a mostra não ignora a presença dominante de Escrava Isaura no imaginário popular. Para os artistas Leandro e Aurélio, a proposta não é negar a relevância do romance, mas ampliar o repertório do público sobre a produção literária do autor.
A intenção é revelar um ouropretano regionalista multifacetado que foi romancista, poeta, crítico, além de jornalista e magistrado. “Ele produziu muito. Publicou em jornal, fez crítica literária, escreveu sobre quilombos, sobre a cidade. Foi também juiz”, destaca Leandro, lembrando dos dois períodos em que Bernardo Guimarães foi Juiz de Direito em Catalão, no estado de Goiás.

A mostra ainda inclui a exposição de edições raras e inéditas das obras de Bernardo Guimarães. “Reunimos 17 livros do autor, incluindo primeiras edições e curiosidades sobre suas publicações, para que o público possa ter acesso direto a esse acervo”, relata o museólogo Ygor Fortes. Já os artistas do Atelier Dois Capelistas, consideram que se trata de um gesto simbólico de resgate. “É uma forma de reinscrever Bernardo no corpo da cidade, de dar visibilidade ao autor que viveu e escreveu aqui”, destacam.
A exposição convida o público a redescobrir Bernardo Guimarães para além de sua obra mais conhecida, revelando a riqueza e a diversidade de sua produção literária. Ao propor novas leituras, a mostra amplia o entendimento sobre o autor e resgata lados pouco explorados de sua trajetória. “É educativa, sensível, e devolve Bernardo Guimarães ao seu lugar de relevância na cultura mineira e brasileira”, conclui Fortes.









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