Mostra de arte africana reforça ações de educação antirracista em Ouro Preto
- Arthur Marques e Francisco Leite
- 26 de ago.
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46ª edição
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Exposição na Casa de Gonzaga dialoga com formações e projetos municipais que buscam valorizar a memória africana e ampliar o ensino da cultura africana e afro-brasileira.

No dia 6 de agosto foi aberta, em Ouro Preto, a exposição “Arte africana: Máscaras e esculturas”, na Casa de Gonzaga, localizada no centro histórico da cidade. A mostra reúne 180 peças da Coleção África, como máscaras, esculturas, utensílios, adornos e objetos ritualísticos que revelam a estética, a espiritualidade e os saberes da diversidade cultural africana. Realizada pelo Ministério da Cultura, Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, Coleção África e Editora BEI, a exposição segue aberta ao público até 19 de outubro.
A programação da mostra também oferece, como parte de suas ações educativas, oficinas de arte-educação para estudantes de escolas públicas. Essas oficinas têm como objetivo ampliar o diálogo com as obras do acervo, promovendo o acesso e a formação cultural das novas gerações. As atividades propostas buscam despertar um olhar mais atento para as tradições africanas e sua influência na construção da identidade brasileira.
Para além de seu valor artístico, a iniciativa se conecta a um movimento mais amplo de valorização da cultura africana na cidade. Kedison Guimarães, diretor de Igualdade Racial da Prefeitura de Ouro Preto e gestor da Casa de Cultura Negra, destaca que a presença dessas peças em Ouro Preto contribui para que crianças e jovens reconheçam a riqueza das tradições africanas e compreendam a contribuição desses povos na formação do município.
Além disso, ações dessa natureza fortalecem a aplicação da Lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas. “Museus e exposições oferecem oportunidades únicas de aprendizado, criando experiências que aproximam teoria e prática, pois valorizam a memória negra e ampliam o contato dos estudantes com a história e a cultura africana”, ressalta Kedison.

A abertura da mostra dialoga diretamente com outra ação importante da cidade. No dia 12 de agosto, a Prefeitura Municipal iniciou a Formação de Educação Antirracista, promovida pela Secretaria de Educação, por meio da Casa do Professor, em parceria com o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI). Mônica Nepomuceno, servidora da Casa do Professor e coordenadora do programa Ouro Preto Meu Lugar, explica que a proposta é fortalecer práticas pedagógicas críticas e inclusivas. Ela ressalta que a ação é fruto da articulação entre diferentes órgãos e programas, como a Casa de Cultura Negra — referência local em atividades educativas voltadas à equidade racial — e a Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (PNEEEQ).
A formação acontece em três etapas, sendo duas de fundamentação teórica e uma de prática, e busca criar espaços de reflexão, acolhimento e troca de experiências entre educadores. “A terceira etapa dará espaço para os professores explorarem múltiplas abordagens em sala de aula, compartilhando experiências e criando projetos alinhados ao combate ao racismo e à valorização da identidade negra”, comenta Mônica.
Além dessas, outras iniciativas na cidade promovem a educação antirracista, como é o caso do Coletivo Conexão Zulu, que desenvolve oficinas na APAE de Ouro Preto utilizando o Hip-Hop como ferramenta de ensino para crianças e adolescentes. Luana Brunely da Silva é coordenadora do Coletivo e atua como educadora popular. Ela relata que tem recebido retornos positivos dos alunos, notando uma mudança na autoestima desses jovens.
Apesar dos bons frutos, Brunely afirma que o principal desafio enfrentado por aqueles que buscam uma educação antirracista, diz respeito às marcas deixadas pela escravidão, como a exclusão social das pessoas negras e periféricas. “Dependendo do espaço que eu estou, essa atuação é limitada por conta de uma questão colonial”, ressalta a educadora popular, que também é mestranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
As práticas e os costumes dos povos negros representam uma base essencial para a formação sociocultural de Ouro Preto. De acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pessoas negras representam mais de 52% da população da cidade. Conectar exposições, formações pedagógicas e visitas educativas significa não apenas preservar a memória, mas também garantir que novas gerações cresçam com um olhar mais crítico, inclusivo e consciente sobre o papel da cultura africana na identidade ouro-pretana e brasileira.









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