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Ouro Preto inaugura novo sistema de sinalização turística do Patrimônio Mundial

  • Davi Lacerda e Mateus Del’Amore
  • 22 de ago.
  • 4 min de leitura

46ª edição


Ouça a notícia na íntegra:


Com a promessa da implantação de novas placas acessíveis e interativas, a cidade histórica busca melhorar a experiência dos visitantes e valorizar ainda mais seu patrimônio urbano.


Fotografia da Praça Tiradentes, em Ouro Preto, com destaque para um totem de sinalização em primeiro plano, que traz indicações bilíngues em português e inglês para pontos turísticos próximos. Ao fundo, vê-se o Museu da Inconfidência, com sua fachada colonial e torre do relógio, além de turistas caminhando pelo calçamento de pedra.
Novo totem de sinalização turística indica o caminho para atrativos de Ouro Preto, como a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, o Museu do Oratório e a Casa da Ópera. | Foto: Mateus Del’Amore

Nos dias 5 e 6 de agosto, Ouro Preto iniciou a instalação de um novo sistema de sinalização turística do Patrimônio Mundial. A primeira etapa prevê a instalação de 149 peças, entre placas fixadas nos prédios históricos e totens indicativos. O projeto segue padrões internacionais de design definidos pelo Manual de Sinalização Turística do Patrimônio Mundial e tem como objetivo melhorar a experiência de quem circula pela cidade. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Organização das Cidades Brasileiras Patrimônio Mundial (OCBPM), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a Prefeitura de Ouro Preto, com patrocínio da Vale e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).


Até o momento, somente três totens chegaram às ruas, dois na Praça Tiradentes e um em frente a Feira de Pedra Sabão. Há ainda a previsão de instalação de placas com QR codes. Apesar dos novos equipamentos, é possível encontrar as antigas placas indicativas, que se encontram bastante desgastadas pelo tempo.


O Discurso Oficial


No discurso das instituições envolvidas, a nova sinalização se apresenta como um passo fundamental para Ouro Preto se posicionar ainda mais no cenário internacional. A aposta é de que as placas tragam ao mesmo tempo modernidade, acessibilidade e respeito ao patrimônio tombado da cidade. A superintendente regional do IPHAN, Maria do Carmo Lara, resume essa perspectiva: “Fazer esse tipo de obra é qualificar mais o turismo na cidade, é fazer com que o turista chegue aqui e consiga, através dos totens e dos QR Codes, conhecer mais a história de cada monumento tombado, de cada igreja. O IPHAN tem esse papel de fomento e de trabalhar junto”.


O prefeito Ângelo Oswaldo também defende a iniciativa como uma conquista para o município: “As placas informam sem perturbar, sem criar qualquer elemento agressivo na paisagem urbana, respeitando o patrimônio arquitetônico e urbanístico. Ouro Preto precisava disso, e agora finalmente o projeto saiu”.


No discurso institucional, portanto, o projeto é apresentado como um marco de preservação e inovação, capaz de projetar a cidade para o mundo sem abrir mão de sua identidade histórica. No entanto, além das comemorações e pronunciamentos oficiais, ainda permanece a dúvida: de que modo essa sinalização se relaciona com o cotidiano dos moradores?


Fotografia em área central de Ouro Preto, com destaque para uma placa de ferro escuro indicando direções turísticas. O letreiro principal aponta para o Parque Arqueológico Morro da Queimada, enquanto outra seta indica a Cachoeira das Andorinhas. Ao fundo, há casarões coloniais com janelas coloridas e pessoas caminhando pelo calçamento de pedra. O céu é azul e limpo, sugerindo dia ensolarado.
Placa de sinalização turística desgastada e entortada que indica o caminho para o Parque Arqueológico Morro da Queimada, em Ouro Preto. | Foto: Mateus Del’Amore

Mas, e para os moradores?


Enquanto as autoridades falam em “roteiros internacionais”, muitos ouro-pretanos sequer notaram a presença das novas placas. Até o momento, apenas alguns totens foram instalados no centro histórico, e a novidade passa despercebida para parte da população que lida diariamente com o fluxo de visitantes.


A vendedora Rosária Bittencourt, por exemplo, admite não ter visto os totens: “Por a gente já morar aqui, apesar de lidar com o turismo, eu não vi essas placas. Acho que vai ser mais informativo para o turista. Muitas vezes o cliente fica perdido perguntando onde ficam igrejas e museus. Para a gente que mora aqui também pode ser bom, porque nem sempre conhecemos muito sobre a história”.


Essa percepção também é compartilhada pela atendente Roberta Ribeiro, que destaca o potencial educativo das novas ferramentas: “Na questão de localização vai facilitar bastante. Mas os QR Codes também ajudam os moradores, porque nem todo mundo conhece a história dos lugares. Seria bom para entender mais sobre a cidade”.


Imagem de feira de artesanato, em Ouro Preto, com destaque para o totem. Em primeiro plano, do lado esquerdo, há um totem branco na vertical de sinalização turística. No topo, há um retângulo marrom com o logotipo do Patrimônio Mundial em dourado e a inscrição em círculo: “Patrimônio Mundial - World Heritage - Patrimoine Mondial”. Abaixo, há uma seta preta apontada para a direita. Na parte central do totem estão as indicações dos destinos. À direita do totem aparecem carros estacionados e ao fundo a Feira de Artesanato.
Totem do novo sistema de sinalização turística em Ouro Preto, localizado próximo à Feira Pedra Sabão. As placas seguem padrões internacionais de design e indicam pontos de interesse como o Centro de Convenções, o Trem da Vale e o bairro Bauxita. | Foto: Davi Lacerda

Para o produtor cultural Leandro Borba, o impacto pode ser maior entre os jovens: “Mesmo sendo daqui, muitos não absorveram esse conhecimento. Para as crianças nas escolas, é uma oportunidade de aprender andando pela própria cidade. Isso dá conhecimento histórico sobre o lugar onde vivem”.


A comerciante Loraine Gama reforça a expectativa pelo lado econômico, mas reconhece que, para os moradores, o efeito é um tanto quanto limitado: “Particularmente ainda não parei para ver as placas, mas a gente espera que tragam mais visitantes. Para nós, moradores, acho que não muda tanto. Mas para quem não conhece a história, até mesmo o morador, pode ser interessante escanear o código”.


Apesar das diferenças de opinião, o que une os relatos é a percepção de que o projeto ainda não se integrou completamente ao cotidiano de Ouro Preto. Para alguns, a sinalização pode se tornar um caminho educativo e cultural entre os moradores e seu próprio patrimônio. Para outros, será apenas mais um recurso a serviço do turismo.


No papel, a proposta trata de um avanço, placas modernas, acessíveis,  seguindo os padrões internacionais. Na prática, o impacto segue limitado e pouco visível para quem mora na cidade. Diante disso, o desafio está em fazer com que a sinalização não seja apenas um roteiro para visitantes, mas um convite para que os próprios ouro-pretanos redescubram e se reconheçam na cidade onde vivem.


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