Resenha | Exposição apresenta jovens olhares sobre a cidade de Ouro Preto
- Bárbara Aleixo
- 7 de abr.
- 5 min de leitura

Ouro Preto, cidade de ladeiras íngremes, igrejas monumentais e museus que preservam a memória e a história, carrega não apenas o peso de um passado colonial, mas também o pulsar de uma vida cotidiana que, muitas vezes, escapa até aos olhares mais atentos. Para além da vitrine histórica que se revela na arquitetura e nas ruas, há um cotidiano oculto no qual os moradores enxergam o Patrimônio Cultural da Humanidade de maneira distinta.
São visões internas de quem faz parte da cidade, seu cenário e sua natureza. De tempos em tempos, surgem oportunidades para romper essa barreira e mostrar o olhar de quem vive ali. Isso foi exatamente o que senti ao visitar a exposição fotográfica "Traços, cores e contornos: Lentes que contam a alma de Ouro Preto" e me arriscar a ver com os olhos do outro, em uma tarde de outono, na Casa Horto dos Contos.
Inaugurada no dia 21 de março de 2025, a exposição reúne as imagens finalistas dos Concursos de Fotografia promovidos pela Prefeitura de Ouro Preto desde 2021. A iniciativa, realizada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, por meio do Departamento de Educação Ambiental, e em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, envolve estudantes do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) das redes pública e privada do município. O principal objetivo é estimular a valorização e preservação das relações destes jovens cidadãos com sua cidade e meio ambiente. O concurso e a exposição também visam promover um olhar sensível e diferenciado sobre o seu entorno, fortalecendo a cultura local por meio da educação.
Desde o início, o concurso trouxe um tema distinto a cada edição. Em 2021, a primeira edição, intitulada “Meio Ambiente em Foco”, teve como objetivo estimular a conscientização ambiental dos estudantes e fomentar a divulgação das belezas naturais de Ouro Preto. Em 2022, com o tema “Um Olhar sobre o Meio Ambiente e suas Brasilidades, em Homenagem aos 100 Anos da Semana de Arte Moderna”, o concurso estabeleceu um diálogo com a chegada dos modernistas a Ouro Preto em 1924. A terceira edição, realizada em 2023, com o título “Bicentenário do Título de Imperial Cidade de Ouro Preto - 1823-2023”, celebrou a efeméride e destacou a grandiosidade natural do território.
A quarta edição, lançada em 2024, trouxe o tema "Contornos de Ouro Preto: Cores que Vibram e Traços que Contam", incentivando os alunos a capturarem a essência da cidade histórica por meio de fotografias inéditas que explorassem formas, histórias, cultura e arte. Os estudantes participaram com fotos tiradas em qualquer local do município de Ouro Preto (sede e distritos), desde que sejam inéditas e realizadas no ano de 2024. Para validar a participação, cada estudante também precisa fornecer informações sobre a fotografia, como data, local e horário do registro.

As fotos vencedoras da última edição realizada ilustraram o bloco de notas e o calendário da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável para o ano de 2025. Além desse reconhecimento e divulgação dos trabalhos, houve premiação que incluiu um notebook para o primeiro colocado, um smartphone para o segundo, um tablet para o terceiro e uma caixa de som portátil para os participantes classificados do quarto ao décimo segundo lugar.
Ao longo de suas quatro edições, centenas de alunos se inscreveram, transformando o concurso em um importante instrumento de conscientização ambiental e engajamento artístico na comunidade estudantil ouro-pretana. Inicialmente concebido como um projeto educativo, o concurso se transformou em uma plataforma que oferece novas perspectivas sobre a cidade, capturando sua natureza, cultura e identidade de maneira única. As fotografias apresentadas refletem a conexão dos jovens participantes com a riqueza de seu entorno, retratando paisagens, detalhes e momentos que não só ressaltam a natureza de Ouro Preto, mas também os diversos temas abordados a cada edição do concurso.

Ao entrar na sala de exposição, a sensação inicial é a de atravessar um portal entre luz e sombra. Cada fotografia não apenas retrata Ouro Preto, mas revela a emoção de jovens moradores que vivem nessa cidade tombada como Patrimônio da Humanidade. Não há grandes fotografias emolduradas com composições grandiosas; pelo contrário, as imagens estão dispostas lado a lado, em pequenos quadros. A força sensorial da mostra não vem apenas das cores vibrantes ou dos contrastes entre o urbano e o natural, mas do detalhismo que, muitas vezes, escapa ao olhar apressado, seja de turistas ou dos próprios moradores. As fotos, capturadas com celulares, subvertem a lógica da fotografia técnica e profissional, priorizando a espontaneidade e a autenticidade.
Além disso, a escolha dos temas ao longo dos anos reforça um olhar múltiplo sobre Ouro Preto. A potência dessa exposição está justamente na sua capacidade de traduzir o patrimônio cultural de Ouro Preto em imagens que ultrapassam a imaterialidade. Não se trata apenas de registrar ruas, igrejas ou montanhas, mas de revelar um pedaço da memória coletiva ouro-pretana.
Ao final, a exposição se estabelece como um registro vivo da identidade de Ouro Preto, uma celebração que extrapola os muros dos museus e se espalha pelo imaginário da cidade. Mais do que um simples resultado de um concurso, a mostra se configura como um convite ao olhar – um convite para enxergar Ouro Preto não apenas como um monumento preservado no tempo, mas como um organismo vivo, onde cada fragmento pixelado carrega uma história que merece ser contada e perpetuada.
Por fim, a exposição nos leva a refletir sobre o papel da fotografia na construção de memórias e na preservação do patrimônio. Se o objetivo era inspirar a valorização da cidade e seu entorno, posso dizer que a missão foi cumprida com louvor. Ao sair da exposição, percebi que meu olhar sobre a cidade havia mudado. As mesmas ruas de sempre agora pareciam novas, repletas de detalhes antes invisíveis. A fotografia, afinal, tem esse poder: o de nos ensinar a enxergar o que sempre esteve ali, mas que só agora aprendemos a ver – como uma sugestão do que talvez você tenha perdido.
Serviço:
A exposição "Traços, cores e contornos: Lentes que contam a alma de Ouro Preto" foi inaugurada no dia 21 de março e irá até o dia 13 de abril, no Museu Casa dos Contos, à rua São José, 12, no Centro de Ouro Preto. A visitação pode ser feita de terça a domingo, das 10h às 17h. A entrada é gratuita. Não perca a oportunidade de apreciar as fotografias premiadas que revelam a essência da cidade por meio do olhar de jovens ouropretanos.
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