Natureza em contraste no Parque do Cruzeiro
- Thácila Vasconcelos
- há 3 dias
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46ª edição
Ouça o resumo da crônica na íntegra:

Mariana é uma cidade histórica. Pelas ruas de pedra-sabão, pelas igrejas barrocas e pelas casas coloniais preservadas, o passado se impõe em cada detalhe. O patrimônio cultural salta aos olhos, quase como se a cidade tivesse parado no tempo. Mas, nesse mesmo cenário, a natureza parece relegada ao segundo plano, espremida entre casarões antigos e novas construções.


A partir da sua inauguração, no dia 7 de agosto de 2025, o Parque do Cruzeiro, projetado em 2011, começou a fazer parte desse contraste. O espaço se impõem no horizonte. Ao caminhar pela Rua Direita, conseguimos vê-lo nas serras que desenham a cidade. Para chegar até lá, não há ônibus. Caminhei até o ICHS e, em seguida, segui por cinco minutos por uma trilha de terra, acompanhada de uma amiga, onde cruzamos com atletas de mountain bike. Neste momento, não havia mais barulho de carros, pessoas, música. Apenas sons da natureza. Achei curioso — não estávamos a mais de dois quilômetros da Praça Gomes Freire, mais conhecida como Jardim.

A trilha nos levou até o bairro Cruzeiro do Sul, de classe média, marcado por casas modernas. O parque, localizado na Rua Aldebaran, surpreende pelo tamanho do espaço. Logo na chegada, o mirante chama a atenção: dele, é possível ter uma vista quase 360° de Mariana, uma imagem panorâmica que nos faz querer ficar horas observando.
O parque é cortado por bancos para aqueles que buscam uma boa conversa entre amigos ou passar o tempo com a família. No mesmo espaço fica a nova sede da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Proteção Animal (SEMADS). As salas ainda vazias geram curiosidade e ansiedade nos visitantes, principalmente para a inauguração de um observatório. Todas as salas possuem plaquinhas de identificação, mas essa se destaca não apenas pelo nome, mas também pelo teto de vidro, que permite a entrada de luz e conexão com o céu.

Apesar de recém-inaugurado, o parque ainda não está totalmente finalizado. Bancos inacabados, betoneiras, tábuas, carrinhos de mão e pilhas de tijolos dividem o espaço com visitantes e trabalhadores. Mas é justamente ali, sobre a grama recém-plantada, que a vida e a memória criam raízes: famílias se encontram, crianças pedalam suas bicicletas, casais demonstram afeto e amigos colocam o papo em dia.
Atualmente, o Parque Municipal da Estância Ecológica do Cruzeiro, como é formalmente nomeado, é a primeira e única Unidade de Conservação em Mariana. A cidade, movida pelo turismo e pela mineração, ainda parece “imatura” quando o assunto é sustentabilidade e preservação ambiental. O turismo colonial, tão exaltado, é caro e restritivo, muitas vezes inacessível à própria população local. O ecoturismo, por outro lado, traz outras perspectivas, pode democratizar o lazer, aproximar os moradores da natureza e valorizar um outro patrimônio essencial à vida — que é vivo.

Conversei com diversos visitantes, quase todos marianenses. Eles compartilharam lembranças da infância e adolescência passadas no Cruzeiro, uma área da cidade conhecida pela cruz que se ergue no alto. O parque, mesmo antes da demarcação municipal, já despertava memórias que atravessam gerações, e talvez seja esse o alicerce que Mariana deva cultivar: menos concreto e mais raízes.

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