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Rota da lama revela os impactos do rompimento da barragem de Fundão

  • Artur Corrêa e Sofia Mosqueira
  • 3 de nov.
  • 3 min de leitura

47º edição


Mesmo após o rompimento da barragem de Fundão, as atividades mineradoras continuam redesenhando territórios e afetando comunidades da região.


Infográficos: Carla Neves e Maria Júlia Cintra (Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Conflitos em Territórios Atingidos - CONTERRA/UFOP)


Representar Mariana, município situado entre as regiões de Ouro Preto e Barra Longa, também atingidas diretamente pelo rompimento da barragem de Fundão, das mineradoras Vale e BHP (Samarco), em 2015, não é uma tarefa fácil ou simples. Traduzir graficamente  parte das dimensões geográficas e humanas da dor e do horror, e por uma década depois do crime, nos impõe pensar o tempo das violências que se repetem e continuam existindo até hoje, com novas versões de desrespeito à vida e à dignidade humanas. 


O rompimento de Fundão despejou um mar de rejeitos de minério de ferro no rio Gualaxo do Norte, pertencente à bacia do Rio Doce, que levou a lama tóxica às comunidades ribeirinhas, contaminando o rio Doce até sua foz no oceano Atlântico. No infográfico que montamos com a parceria essencial do Conterra, precisávamos falar de passado, presente e futuro pelas áreas dos reassentamentos, a mancha de Dam Break (saiba mais no Box), o território original das comunidades atingidas e a localização das pilhas de estéreis (PDER).


“Os crimes começam nos projetos iniciais e esse é o projeto inicial de um novo crime” (Mauro Silva)


A área de expansão de lavras, próximas ao Complexo Germano (da Samarco), onde rompeu a barragem de Fundão, indica que a atividade mineradora segue sendo ampliada na região para extração do minério de ferro. Sem a barragem, agora o cenário é composto por correias mineradoras instaladas para movimentar grande volume de materiais extraídos, sistema capaz de levar o rejeito até as pilhas de estéreis. 


Mesmo após o rompimento, a mineração continua se expandindo, o que afeta diretamente as comunidades ao redor. E com esse crescimento, expande o medo, a memória da dor e o horror. Representadas pela cor cinza no mapa e próximas a algumas comunidades da região, especialmente Camargos, as pilhas de estéreis são preocupantes para quem habita a área. Com planejamento para serem construídas a menos de 500 m do curso do Rio Gualaxo do Norte, elas são grandes depósitos de materiais provenientes da mineração sem qualquer valor comercial e potências para novos desastres-crimes.


Consideradas como um fator de risco por serem pilhas instáveis, além de modificar o meio ambiente, criando uma montanha no cenário natural, elas podem desabar e, com isso, atingir novamente o ecossistema da região e seus habitantes. “É o anúncio de um novo crime. Não sei quando vai acontecer, mas os crimes começam nos projetos iniciais e esse é o projeto inicial de um novo crime", diz Mauro Silva, atingido de Bento Rodrigues, sobre as pilhas. 


Mancha Dam Break
Representa os locais invadidos pela lama de rejeitos e fluidos hiperconcentrados e não caracteriza os lugares afetados pelas águas e fluídos, como a contaminação dos rios que se estendem em diversas outras direções. No caso de Antônio Pereira, onde a mancha de Dam Break não se concretizou, caso aconteça o rompimento da barragem Doutor, considerada de alto risco, mancharia de marrom e morte também aquela região.
#ParaTodosVerem: A figura mostra o mapa de Minas Gerais em verde escuro e o mapa do Espírito Santo, em verde mais claro. Um ponto vermelho marca o local do rompimento da barragem de Fundão e uma linha amarela mostra o caminho que a lama percorreu, desse ponto até a foz do Rio Doce, no Espírito Santo, onde o rio deságua no Oceano Atlântico.
A lama de Fundão percorreu mais de 600 km até chegar à foz do Rio Doce, em Linhares (ES). Arte: Conterra/UFOP
#ParaTodosVerem: A Imagem mostra um mapa do trajeto da lama de rejeitos despejada a partir do rompimento da barragem de Fundão. O mapa mostra o curso do rio Gualaxo do Norte, no trecho entre a barragem no Complexo Germano (Samarco) até o município de Barra Longa, cruzando toda a cidade de Mariana/MG. Ao longo do Rio, identificam-se as comunidades atingidas e os reassentamentos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo (Novo Bento Rodrigues e Paracatu, respectivamente), ambos distantes do rio. O mapa também mostra a área de novas lavras em Ouro Preto, bem como os complexos minerários próximos de Fundão. Para completar, são destacadas as correias transportadoras que levam o material sem valor até as pilhas de estéreis, próximas às comunidades. Ícones das capelas de cada localidade identificam as comunidades de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Antônio Pereira.
Mapa mostra o trajeto da lama de rejeitos e os avanços da mineração após o rompimento da barragem de Fundão. Arte: Conterra/UFOP
#PraTodosVerem: a figura é uma representação do modelo de conformação dos terrenos onde foram construídas as casas no reassentamento do novo território de Bento Rodrigues para as vítimas do crime. As casas são representadas de rosa na frente do lote e, devido a irregularidade do terreno, a área de quintal, nos fundos em verde, é apresentada em dois níveis diferentes acessados por escadas.
A maioria das casas que estão sendo entregues às famílias reassentadas em Novo Bento Rodrigues são construídas em terrenos desnivelados, criando uma estrutura de planos em degraus nas áreas verdes. Arte: Conterra/UFOP
#PraTodosVerem: a figura mostra a representação das duas pilhas de estéril e rejeito comparadas com outras construções para dar ideia de sua dimensão, indicando a altura de cada pilha em número de casas populares e igrejas da Sé empilhadas e, também, em número de andares de um prédio. A maior dela equivale a um prédio de 74 andares e a menor com 11 andares a menos.
As duas imensas pilhas que serão formadas por estéreis e rejeitos, de aproximadamente 200 metros de altura, além de mudar a paisagem local, ameaçam o ecossistema e preocupam as comunidades vizinhas. Arte: Conterra/UFOP

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