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Alfabetização avança e Ouro Preto já supera metas fixadas para 2027

  • João Pedro Nepomuceno e Laira Ferreira
  • há 4 dias
  • 4 min de leitura

47º edição


Reorganização das práticas em sala, apoio individualizado e novas regras de convivência estão entre os fatores apontados pelas escolas.


#ParaTodosVerem: Um homem de barba, com casaco marrom-claro, fala ao microfone para um grupo de crianças e adolescentes sentados no chão, em uma área coberta. Ele está do lado de uma estante com livros coloridos. As crianças, de diversas etnias, olham atentamente. A cena sugere uma atividade de contação de histórias ou leitura em um ambiente escolar.
Apresentação de atividade dedicada ao dia do livro, ação para incentivar a leitura e produção literária na Escola Municipal Tomás Antônio Gonzaga. | Foto: Arquivo pessoal/cedido ao jornal Lampião.

Os dados mais recentes do Indicador Criança Alfabetizada, divulgados em setembro deste ano pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), mostraram que Ouro Preto superou as metas de alfabetização previstas para 2027. A expectativa inicial era de que o município alcançasse 59,55% de crianças alfabetizadas, porém em 2024 o índice já havia chegado a 71,36%.


A meta nacional é que, até 2030, 80% das crianças brasileiras estejam alfabetizadas. Esses números são resultantes do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada (CNCA), que busca garantir a alfabetização de todas as crianças ao final do 2º ano do ensino fundamental e reduzir a defasagem educacional agravada pela pandemia de COVID-19. 


A Secretária de Educação do Município, Deborah Etrusco, conta que Ouro Preto enfrentou grandes desafios no processo de alfabetização no período pós pandemia. Hoje os problemas estão sendo minimizados, embora os impactos ainda estejam presentes. “A rede conseguiu avançar de forma consistente por meio do acompanhamento contínuo das habilidades consideradas prioritárias nas avaliações e na rotina pedagógica”, afirma Débora.


Hoje, o município alcança o nível 4 de alfabetização no Indicador Criança Alfabetizada, índice do próprio programa, numa escala de 1 a 5. O CNCA se destaca por ser um projeto de adesão voluntária, no qual Ouro Preto assume o compromisso de desenvolver ações que apoiem as escolas municipais no processo de alfabetização. Com a adesão, a rede municipal passou a reorganizar parte das rotinas pedagógicas e investir na formação dos professores.


O principal método de avaliação utilizado pela Secretaria de Educação para o replanejamento das ações pedagógicas, acontece por meio das avaliações aplicadas pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (CAEd), que investigam as habilidades prioritárias definidas pelo Ministério da Educação (MEC). Por meio dos resultados é possível identificar quais competências demandam reforço.


Na Escola Municipal Tomás Antônio Gonzaga, localizada no bairro Saramenha, a estrutura e o trabalho pedagógico foram ajustados. A escola ampliou o uso da biblioteca, que agora fica aberta durante todo o horário de aulas, e passou a contar com um professor que auxilia os alunos exclusivamente no uso desse espaço.


A diretora da escola, Maria Elizabeth Araújo, explica que esse é um dos fatores que aceleram o processo de alfabetização. Segundo ela, ao terem contato mais próximo com o acervo literário, os estudantes passam a enxergar a leitura como recreação. “Os alunos também podem levar um livro para casa, então a leitura é incentivada não como obrigação. A criança lê com vontade, muitas vezes junto com a família”, conta a diretora.


O Compromisso Nacional Criança Alfabetizada também incentiva o desenvolvimento dos professores, ampliando as práticas educacionais em sala de aula. Uma das ações é o programa de formação Leitura e Escrita na Educação Infantil (LEEI), que por meio da Universidade Federal de Minas Gerais oferece atividades de formação para professores da educação infantil, permitindo aos docentes criar iniciativas próprias e apresentar às escolas novas metodologias.


Outra medida adotada pela escola foi a implementação de professores de complementação pedagógica, com o objetivo de garantir mais equidade nas salas de aula. Esses profissionais acompanham os alunos que apresentam dificuldades no processo de aprendizagem.

Segundo a diretora, quando a escola identifica que a criança tem dificuldade para acompanhar o conteúdo junto aos demais colegas, ela é encaminhada para o professor recuperador, que atua no reforço até que o aluno consiga retomar ao ritmo da turma.


A implementação de salas de aula temáticas foi outra estratégia no reforço escolar. No mês de novembro, dedicado à consciência negra, por exemplo, os alunos tiveram contato com diversos elementos da cultura afro-brasileira, participaram da produção de trabalhos artísticos e foram incentivados a escolher livros sobre o tema na biblioteca. 


#ParaTodosVerem: Imagem de uma exposição sobre cultura afro-brasileira. Uma mulher de costas, com casaco marrom, aponta para um grande painel de uma mulher negra na parede. As paredes brancas estão decoradas com diversos quadros coloridos de danças e símbolos. No canto inferior esquerdo, há um altar improvisado com uma imagens de santos, velas e castiçais, destacando a união de cultura e religiosidade.
Sala temática com exposição de itens da cultura afro-brasileira da Escola Municipal Tomás Antônio Gonzaga. | Foto: Laira Ferreira

Projetos como o CNCA têm se mostrado eficazes no processo de alfabetização e na melhora dos indicadores sociais. A professora Dra. Célia Nunes, do Departamento de Educação da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), explica que a implementação de ações em várias frentes pode potencializar ainda mais esses resultados: “A questão é dar o suporte para garantir a permanência dessas crianças na escola, mas principalmente investir nos recursos humanos, com a implementação de uma política de valorização docente e valorização da condição dos trabalhadores da educação do município.”


A pesquisadora também alerta para a importância de professores concursados, condição que garante continuidade e estabilidade no processo de alfabetização. “Temos que possuir quadros de professores efetivos na rede, pensando que a educação é um processo que se faz a longo prazo.”

Outras medidas nacionais adotadas no último ano também podem estar relacionadas ao aumento nos índices de alfabetização. Maria Elizabeth, destaca que, após a proibição do uso de celulares em sala, o rendimento dos alunos melhorou. A escola adotou a regra ainda em 2023, antes da aprovação da lei federal, atendendo a pedidos dos pais.


“Na pandemia imploramos para o aluno ter acesso ao celular, mas depois eles perderam o limite. Às vezes o professor estava explicando e o aluno estava no telefone”, lembra a diretora.

Com a mudança, os estudantes passaram a questionar como ocupariam o tempo ocioso. Para estimular a convivência, a escola comprou jogos de tabuleiro. “Eles não sabiam conversar sem o celular. Hoje temos poucos problemas, e a atenção em sala melhorou muito”, afirma.


#ParaTodosVerem: Três jogos de perguntas em formatos de cartas em close-up, dispostos sobre uma mesa azul. O primeiro é vermelho e diz "quem é você?". Os outros dois são "Puxa Conversa Família" (azul) e "Puxa Conversa Escola" (azul e roxo). Um cartão branco à frente exibe a pergunta: "Para você, no futuro, é mais importante ter dinheiro ou ter amigos?".
Jogos que estimulam a conversação, adquiridos pela Escola Municipal Tomás Antônio Gonzaga para incentivar a socialização dos alunos. | Foto: João Pedro Nepomuceno

Para garantir que os índices se mantenham positivos, Deborah reforça que a Secretaria de Educação acompanha as turmas da rede ao longo dos anos. “O foco central é garantir o desenvolvimento integral e a aprendizagem de cada estudante. Para prevenir desigualdades e manter a qualidade dos resultados, o município conta com um conjunto de ações contínuas: a Complementação Pedagógica, o acompanhamento sistemático das pedagogas nas escolas, a aplicação frequente de avaliações internas e externas e a oferta de formação continuada, direcionada especificamente para o fortalecimento da alfabetização.”

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