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Região dos Inconfidentes reforça prevenção ao HIV e ISTs no Dezembro Vermelho

  • Cecília Araujo e Fernanda Germano
  • há 1 dia
  • 7 min de leitura

47° edição


Enquanto diagnósticos de Aids reduziram no último semestre de 2025, casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) crescem, especialmente da sífilis.


 #ParaTodosVerem: A imagem contém uma caixa retangular com cores laranja, amarela e verde, com frases escritas em branco: “Autoteste HIV”, “Faça onde quiser e quando quiser” e “Venda proibida | produto destinado a órgãos públicos”. À frente, um cartão de teste de HIV branco com o resultado negativo e um tubo para detectar o vírus HIV. Nele, está escrito “Eco” seguido do número de telefone 0800 030 2510 e “Disque Saúde 136”.
Autotestes de HIV, acessíveis nas UBS e farmácias, ajudam a detectar o vírus no início da infecção | Foto: Vinícius Augusto

A campanha anual Dezembro Vermelho foi criada pelo Ministério da Saúde e vinculada ao Dia Mundial do Combate à Aids, celebrado no 1° dia do mês. A ação surgiu para reforçar a importância do tratamento e conscientização da população sobre o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).


Existem diferenças entre os três termos que devem ser ressaltadas. Enquanto o HIV se trata de um vírus transmitido pelo contato com fluidos corporais específicos e que ataca o sistema imunológico, causando o enfraquecimento das células humanas, a Aids é o estágio avançado da infecção pelo HIV, quando as defesas imunológicas já estão comprometidas. A infecção pelo HIV está entre as ISTs, um grupo extenso de outras contaminações causadas por vírus, bactérias ou microrganismos transmitidos principalmente pelo sexo desprotegido, como sífilis, gonorreia, clamídia, tricomoníase, herpes genital, hepatites virais B e C, e Vírus Papilomavírus Humano (HPV).


No último semestre de 2025, segundo os dados fornecidos pela Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais, a Região dos Inconfidentes promoveu ações de testagem e prevenção nos principais pontos de atendimento à saúde e registrou baixa no números de casos de HIV/Aids, totalizando quatro em Itabirito, sete em Mariana e cinco em Ouro Preto. Embora as detecções de HIV/Aids tenham diminuído nas cidades mineiras, houve um aumento no número de ISTs adquiridas, principalmente a sífilis: 66 registros em Itabirito, 73 em Mariana e 29 em Ouro Preto. Já a Hepatite B contabilizou apenas um caso em Mariana, um em Ouro Preto e nenhum em Itabirito. A Hepatite C, por sua vez, teve apenas um caso registrado em Mariana.


#ParaTodosVerem: A imagem contém três gráficos com dados sobre o HIV/Aids e a IST sífilis, nos meses de julho, agosto, setembro, outubro e novembro de 2025. Em formatos de setores e linhas traçadas, nas cores verdes padrão Jornal Lampião, estão separados os comparativos de HIV/Aids nos municípios de Itabirito, Mariana e Ouro Preto, casos de sífilis em cada um deles e o comparativo entre as duas infecções em quantitativo.
Mariana é a cidade destaque para os casos de sífilis na Região dos Inconfidentes | Infográfico: Johann Zanuzzi

O alto índice de novos casos de sífilis trazem um grande alerta e despertam a atenção pública, mesmo possuindo tratamento pós-contaminação. A sífilis é uma infecção bacteriana que tem cura e pode ser tratada com antibióticos. Já as hepatites B e C, que atacam principalmente o fígado, são tratadas com antivirais. Mesmo sem cura, a hepatite crônica B possui vacina preventiva disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pode ser controlada com medicamentos específicos. A hepatite C é tratada com medicamentos antivirais de ação direta (DAA) que eliminam o vírus do corpo, promovendo a cura. Todos os tratamentos são oferecidos pelo SUS e precisam de acompanhamento médico, tanto para prescrição, quanto para avaliar a evolução das infecções.


Histórico do HIV/Aids


Entre os anos 80 e 90, o mundo enfrentou a epidemia do HIV, aumentando o número de casos e de mortes na época. No Brasil, os primeiros diagnósticos foram registrados em 1982, e ao longo da década a doença se espalhou de forma acelerada, acompanhando o padrão já observado em outros países: alta letalidade, falta de tratamento eficaz e forte impacto social. O vírus não se limita a grupos específicos, mas abrange toda a sociedade, especialmente pessoas com comportamentos de risco, independente de orientação sexual, gênero, status social e profissão.


Com os avanços do acesso às terapias antirretrovirais, medicamentos que impedem a proliferação do vírus no corpo, oferecidos gratuitamente pelo SUS ainda na década de 90, os índices de mortalidade relacionada ao HIV reduziram significativamente  no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país registrou queda de 51% de óbitos entre 2000 e 2019.


O Ministério da Saúde informou, através do boletim epidemiológico, que o Brasil reduziu para 13% a porcentagem de casos de óbitos por Aids entre 2023 e 2024, alcançando o menor número de mortes dos últimos 30 anos, com aproximadamente 9.100 óbitos em 2024. Em Minas Gerais, a queda é refletida nos dados, registrando cerca de 602 óbitos por Aids em 2024, em comparação a 694 no ano de 2023, mantendo a tendência nacional de redução de mortes pela doença. Além disso, Minas foi um dos estados brasileiros reconhecidos por eliminar a transmissão vertical do HIV, quando o vírus é transmitido da mãe para o bebê na gestação, amamentação ou parto. Considerado um problema de saúde pública, a eliminação foi um marco importante em resposta ao contágio.


Campanhas de conscientização


Durante o Dezembro Vermelho, ações promovidas pelas Secretárias de Saúde dos municípios de Itabirito, Mariana e Ouro Preto reforçam a necessidade de ampliar o acesso à informação e incentivar práticas de cuidado contínuo com a saúde sexual. No último dia 5, o Previna, projeto de extensão e pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Ouro Preto, ofereceu capacitação para o público local sobre o protocolo de prescrição da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição, indicada para prevenir o HIV antes de uma possível exposição) e da PEP (Profilaxia Pós-Exposição), recomendada para situações emergenciais em até 72 horas após o contato de risco. No workshop, realizado no Museu de Farmácia em Mariana, foi inclusa uma atividade de formação em testagem rápida para HIV e outras ISTs, ampliando a qualificação de estudantes e profissionais que atuam na área da saúde e atendimento à população.


#ParaTodosVerem: A imagem contém elementos de prevenção e detecção do vírus HIV, como um pacote de preservativos azuis, preservativo interno feminino nas cores laranja e amarelo e uma caixa de autoteste verde. Ao fundo, desfocado, paredes brancas e portas de madeira abertas
Kits com autoteste e preservativos feminino e masculino foram entregues no workshop em Ouro Preto | Foto: Vinícius Augusto

Para realizar o evento, o Projeto Previna convidou profissionais da saúde que atuam em outras universidades do país para ministrar palestras sobre métodos de detecção, meios de prevenção e comunicação com as pessoas atendidas. As atividades educativas também serviram para capacitar futuros profissionais da saúde, como Emanuelly Nunes dos Santos Viçoso, 25, estudante do décimo período do curso de Farmácia pela Ufop, para quem o ensinamento técnico e prático humanizou seu pensamento sobre o dia-a-dia de atendimento. Foi uma capacitação muito completa, que realmente nos deixa mais segura para poder atuar. No geral, eu saí de lá muito motivada.”


#ParaTodosVerem: A imagem contém um palco de auditório com várias pessoas sentadas assistindo a palestra. À esquerda, uma palestrante fala ao microfone. No centro, uma mesa grande de madeira e um telão exibe uma apresentação sobre o SUS, com palavras como “prevenção”, “diagnóstico” e “acompanhamento e tratamento”. Na frente do palco de madeiras há balões rosas no chão.
O Previna trouxe diversos palestrantes ao Museu de Farmácia com explicações para o público | Foto: Cecília Araujo

A doutora Isabela de Neves Almeida, 39, biomédica e professora adjunta de microbiologia da Escola de Farmácia da Ufop, pontuou que, atualmente, o país passa por uma epidemia de sífilis, devido à falta de preocupação das pessoas com a proteção durante as práticas sexuais. “Infelizmente a nova geração parece ter perdido medo do estigma da Aids, o que as fazem se descuidar da prevenção. Nós associamos a vários fatores, mas principalmente a perda da cultura do preservativo. As pessoas, por ter um medicamento que ajuda no problema do HIV, descuidam das outras infecções”, explica.


O aumento no número de casos pode decorrer do incentivo à testagem e estratégias dos órgãos de saúde pública para que as pessoas tenham acesso ao diagnóstico e ao tratamento. Para Isabela, além do descuido das pessoas ao não se protegerem, as detecções das ISTs também estão associadas com o avanço da medicina nos últimos anos. “Quanto mais você melhora, tanto a oferta dos exames, quanto a qualidade desses exames, você naturalmente vai detectar mais.”


Muitas ISTs apresentam sintomas discretos ou até mesmo não se manifestam. Um exemplo delas é a própria sífilis, que o sintoma mais comum é um caroço na região do órgão sexual externo. Ele não dói e desaparece com o passar dos dias sem tratamento, porque o tecido interno é necrosado pela bactéria. Hoje, para além das medicações prescritas no caso de positivos, são oferecidas vacinas disponíveis para algumas infecções, como o HPV, sendo outro método eficaz para redução do risco de transmissão.


Estigmas das ISTs


O médico infectologista Alexandre Bragato, 43, atua pela Prefeitura Municipal de Mariana e de Itabirito em hospitais e ambulatórios municipais da região. Ele conta que, embora haja iniciativas para testagem gratuita, nem todas as pessoas procuram o diagnóstico. “O estigma e o preconceito, ainda hoje, mesmo com todo o conhecimento que a gente tem sobre a doença (HIV/Aids), ainda existem e são um dos maiores obstáculos no combate ao HIV. Eles afastam as pessoas da testagem, que é o principal mecanismo para a gente saber se a pessoa está com a doença ou não”, afirma o infectologista. 

Bragato ainda reforça a necessidade de procurar atendimento rapidamente após situações de risco. “Se um indivíduo teve uma relação sexual desprotegida ou de risco, ele tem que procurar um serviço de saúde, a UPA, em até 72 horas, ou seja, em até 3 dias, para avaliar imediatamente o início da profilaxia pós-exposição, chamada de PeP”, explica o médico. Segundo ele, é um tratamento de 28 dias com medicamentos antirretrovirais que reduzem o risco da infecção em quase 100%.


Passados 40 anos da epidemia e de mudanças na saúde pública, a cura da Aids ainda não foi encontrada, mas medicamentos antirretrovirais e os acompanhamentos médicos permanecem sendo oferecidos de forma gratuita pelo SUS, ajudando a evitar que o vírus se multiplique no organismo e garantindo mais qualidade de vida às pessoas que vivem com HIV. 


Hoje os números de casos são significativamente menores, mas não extinguidos, então é preciso ter atenção nos momentos de prevenção. “A gente pensa que a doença está longe, mas ela está mais perto do que pensamos”, ressalta o doutor Alexandre Bragato.


Para mais informações sobre os meios de transmissão e prevenção de HIV/Aids e ISTs, acesse o site do Ministério da Saúde do Governo Federal: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/aids-hiv 


Veja os principais pontos de Testagem e Aconselhamento na Região dos Inconfidentes:


Mariana: Testagem em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município.


Ouro Preto: Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), funcionamento de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 16h, no anexo da Upa, na Avenida Mecânico José Português, Bairro São Cristóvão. Testagem voluntária na Lapac, localizado na antiga Escola de Farmácia. Testagem voluntária no CRA LGBT. Testagem em todas as UBS do município.


Itabirito: Testagem em todas as UBS do município.


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