Guarda de Congo Manto Azul celebra 10 anos de sua festa de reinado
- Luiza Fernandes e Maria Eduarda de Lima
- há 6 dias
- 4 min de leitura
47º edição
Sete Guardas mineiras estiveram presentes nos rituais e cortejos realizados no bairro Santa Cruz, em Ouro Preto, para prestigiar uma década da celebração no dia da consciência negra.

A Festa de Reinado da Guarda de Congo Manto Azul de Nossa Senhora Aparecida e São Benedito completou dez anos em 2025 e suas festividades aconteceram no dia 16 de novembro. A programação contou com missa, cortejo, roda de samba e apresentações de guardas visitantes na Praça Lírio do Campo, no bairro Santa Cruz. A festa foi antecedida por um tríduo - três dias de orações - realizado, de 13 a 15 de novembro, na capela de Santa Luzia.
Fundado em 2014, o Manto Azul nasceu de uma orientação espiritual recebida por Jussara, Primeira Capitã da Guarda. A fundadora foi escolhida e chamada por Maria Conga, uma Preta Velha da Umbanda que representa o espírito da humildade, serenidade e paciência. Esse chamamento aconteceu no terreiro de Jussara e a entidade mostrou que ela precisava colocar o Congado nas ruas. “Ela trouxe pra gente essa luz, das bandeiras, dos tambores, das crianças. Essa união nossa”, explica a Primeira Capitã.

Em 2025, a programação trouxe novidades, como a roda de samba, que aconteceu pela primeira vez, e a inclusão de crianças nos preparativos. “A roda não tinha antes, a gente colocou esse ano e foi uma coisa positiva, mais do que eu esperava”, explica Cristiane Vitória, Segunda Capitã da Guarda. Para que tudo funcione, a organização do evento demanda meses de preparo. A Rainha Conga da Guarda, Andiara Aniceto, relata que, em abril, eles já pensam nos convites e nas guardas que irão visitar durante o ano para retribuírem a visita nessa celebração. Em julho começam a entregar os ofícios a fim de conseguirem apoio para o dia da festa, entre eles ofícios para cultura, saúde e segurança.

O Reinado do Manto Azul cresce mais a cada ano, mas nem sempre com os recursos e a estrutura planejada. “Para a nossa festa crescer, a gente tem que ter condições para pagar visita para nossos irmãos, que é um laço que a gente cria”, explica Andiara. Segundo ela, muitas guardas de fora gostariam de vir para a celebração, mas o bairro não tem estrutura para oferecer hospedagem a todos.

Uma forma que as Guardas encontram de arcar com as despesas é a partir de ações de financiamento promovidas pela prefeitura que, de acordo com a Capitã Cristiane: “a gente sempre tenta se inscrever”. Em 2024, Andiara foi contemplada por um edital de chamamento público para premiar Mestres ou Mestras das culturas populares e tradicionais ou por relevante trajetória artística e cultural em Ouro Preto. Com a premiação de R$3.535,06, a Rainha custeou viagens do grupo e a troca das fardas.
Kedison Ferreira, diretor de promoção da Igualdade Racial de Ouro Preto e gestor da Casa de Cultura Negra, explica sobre a verba anual da Secretaria Municipal de Cultura, além das obtidas nos editais que são abertos em prol da cultura. “A prefeitura transfere um recurso para as Guardas realizarem seus festejos e para que possam cumprir os seus compromissos de viagens com outros reinados de outras cidades”. Segundo Cristiane, essa verba é de 10 mil reais e eles dividem entre viagens, celebrações, uniformes e outros gastos que sejam necessários.

A Guarda também conta, desde sua criação, com o apoio da Comissão Ouropretana de Folclore (COF). Segundo Solange Palazzi, ex-presidente e atual tesoureira da Comissão, a entidade acompanha o Manto Azul desde antes da sua fundação oficial. Solange aponta que fundar uma nova entidade envolve diálogo com outras Guardas, com a Igreja e agentes públicos. Apesar do apoio, ela garante que o protagonismo nunca deixou de ser das líderes do Manto Azul, “elas que cuidam e fazem as coisas acontecerem. Nosso lugar mesmo é de ajudar, assessorar”.

Liderança feminina no Manto Azul
Um dos traços mais marcantes do Manto Azul é ser liderado por três mulheres. O protagonismo feminino nesse espaço ainda enfrenta resistência, já que, historicamente, essas posições sempre foram ocupadas por homens. “Antigamente não tinha mulheres como capitãs. Eram mais homens e hoje tem essa força feminina. Não tem essa coisa mais: ‘Só homens que podem ser, só homens que devem levar’. A gente consegue levar o nosso sagrado, o nosso chamado, a nossa espiritualidade”, completa Cristiane.

Para Kedison, essa presença tem um impacto simbólico profundo. “As mulheres carregam consigo um portal da vida. Então, estar ali frente à liderança de uma guarda, de uma capitania, mostra que estamos amparados por nossas mães pretas, fortificando a nossa caminhada nessa cultura ancestral”, reflete ele.










Comentários