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Editorial | Novas edições abrem novos caminhos.

  • Laura Gorino
  • há 2 dias
  • 4 min de leitura

46ª edição


Ouça o Editorial na íntegra:


A 46ª edição do Lampião marca um ponto de inflexão importante na trajetória do jornal-laboratório da UFOP. Não apenas por avanços em sua forma, que incluem um site reformulado, maior presença digital - herança da 45ª edição - e experimentações em formatos multimídia, mas, sobretudo, por um amadurecimento na maneira como as equipes se relacionam com a produção jornalística em um contexto de formação profissional. Este editorial não celebra apenas produtos finais, mas convida à reflexão sobre os caminhos que levaram até a eles, os entraves enfrentados e o que eles revelam sobre o estado atual do jornalismo que se aprende e se pratica dentro da universidade.


Um dos aspectos notáveis desta edição é o empenho em dar continuidade ao conceito de acessibilidade, não apenas enquanto adequação técnica ou cumprimento de requisitos legais, mas como uma abordagem editorial que foi instituída em períodos anteriores. A proposta, nesta edição, era dar continuidade com zelo ao modelo estabelecido previamente e os áudios colocados no início das matérias no site são um ótimo exemplo. Isso transforma a lógica da produção, já que exige considerar, desde o início, públicos historicamente marginalizados pelo jornalismo tradicional.


Ao mesmo tempo, a presença de formatos como podcasts, vídeos e infográficos não surge como mera tendência estética ou tecnológica. Nessa edição, eles aparecem como formas narrativas complementares, capazes de explorar dimensões da notícia que o texto escrito, por vezes, não alcança. Os podcasts ganharam consistência tanto na linguagem quanto na estrutura, deixando de ser um apêndice experimental para se tornarem o resultado e extensão da apuração. Essa mudança de status não é trivial, pois aponta para uma visão mais integrada da comunicação, na qual diferentes linguagens são entendidas como partes igualmente relevantes do processo informativo.


Mas inovação não acontece sem fricções. Uma das dificuldades mais recorrentes foi o gerenciamento do tempo e a adaptação à lógica de rotatividade entre equipes, professores e seções temáticas do jornal. Esse desafio, no entanto, expôs uma questão mais profunda: a tensão entre o ritmo da produção jornalística e o tempo da aprendizagem. Em um jornal-laboratório, não se trata apenas de cumprir prazos ou fechar pautas, mas de aprender a produzir com qualidade dentro dos limites possíveis, o que implica reconhecer falhas como parte do processo e não como sinais de fracasso.


Outro elemento que merece destaque nesta edição é o tratamento conferido à editoria de extensão. As matérias que abordam as comunidades atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão revelam um jornalismo que se posiciona e que abre caminhos para a subjetividade responsável. Ao dar espaço para as vozes dessas pessoas atingidas, o Lampião cumpre um papel fundamental de mediação entre o acontecimento e a memória social. Esse tipo de cobertura exige do estudante uma escuta sensível, uma abordagem ética e uma compreensão contextual ampla que vai além da técnica. É justamente aí que o laboratório se mostra mais potente, pois permite que a formação jornalística seja atravessada pela empatia e pelo engajamento crítico com a realidade.


A nova identidade visual da edição também foi pensada de modo a representar a dinâmica da equipe, mantendo o foco na modernidade e objetividade. A mudança estética, fazendo o uso do visual, também tem o papel de demarcar a transição de períodos e equipes editoriais de forma mais direta. Seguindo nesta linha, as produções das redes sociais também se destacam de maneira positiva. Um dos reels postados se qualifica muito bem como exemplo de inovação pelo diálogo proposto. Nele, os editores perguntavam aos estudantes de outros cursos se eles sabiam o que é um jornal laboratório e a maioria não fazia a mínima ideia do que se tratava. Este tipo de pesquisa molda o caminho a ser trabalhado nas produções do Lampião, uma vez que é preciso romper os muros do curso para que se tenha maior alcance. 


Também é preciso reconhecer os limites estruturais enfrentados pelas equipes. A dificuldade de interlocução com prefeituras e órgãos oficiais se manteve como um entrave recorrente. A recusa ou omissão de resposta a demandas de informação de um jornal universitário evidencia uma relação desigual entre veículos institucionais e laboratórios de ensino. Isso não apenas compromete o direito à informação da população, como também revela o desprestígio ainda atribuído ao jornalismo universitário, visto muitas vezes como mero exercício estudantil e não como uma forma legítima de produção jornalística.


Mesmo diante dessas barreiras, a 46ª edição conseguiu ampliar o escopo temático e aprofundar a cobertura local. Houve um esforço visível de descentralizar as pautas, inserindo diferentes perspectivas sobre cultura, política, cotidiano e memória, o que contribuiu para a construção de um olhar mais diverso e representativo da região dos Inconfidentes. Não se trata apenas de reportar fatos, mas de formar olhares que enxerguem o que muitas vezes é invisível ou negligenciado.


Por fim, esta edição deixa marcas importantes ao revelar um grupo de estudantes que, mesmo diante de limitações, encarou a complexidade do fazer jornalístico com seriedade e disposição para o aprendizado. Mais do que resultados, esta edição oferece processos. E são nesses processos, com seus acertos, erros e recomeços, que reside o valor do Lampião como projeto didático-pedagógico e como veículo de comunicação comprometido com a realidade.


Que a próxima edição saiba acolher essas experiências não como um modelo a ser repetido, mas como uma base sólida para novas perguntas, novos caminhos e novas formas de narrar o mundo.


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