No distrito de Novo Bento, a comunidade está enfrentando problemas relacionados a cobranças imprecisas nas contas de energia elétrica
Desde o início do processo de entrega das novas residências realizado pela Fundação Renova, que começou em maio de 2023, moradores reassentados estão lidando com problemas estruturais nas casas, conforme apurado em setembro deste ano pelo Lampião.
Além dos problemas estruturais, a comunidade de Novo Bento também percebeu um aumento nas contas de energia elétrica em relação ao padrão de Bento Rodrigues. Por motivos éticos, os moradores não serão identificados e os nomes dados na matéria são fictícios.
E. P., 35, recebeu as chaves de sua nova casa em agosto de 2023 e percebeu valores elevados três meses após o processo de mudança. Ao detalhar os padrões de sua residência (que conta com dois quartos, dois banheiros, sala e cozinha), ela questiona os preços da fatura, visto que, além de não possuir eletrodomésticos que consomem muita energia, a família também passa a maior parte dos dias úteis fora de casa.
De acordo com o site da Cemig, um dos fatores que podem aumentar o preço da conta de energia é a bandeira tarifária (criada pela Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel), que indica a diferença de custo de geração de energia para os consumidores de todo país.
Ela aparece na conta indicando a cor vigente no mês, que varia entre: bandeira verde, em que a tarifa não sofre acréscimo, já que apresenta condições favoráveis de geração de energia; bandeira amarela, em que a tarifa sofre acréscimo de R$ 1,885 a cada 100 kWh consumido; bandeira vermelha - patamar 1, em que a tarifa sofre acréscimo de R$ 4,463 a cada 100 kWh consumido; bandeira vermelha - patamar 2, em que a tarifa sofre acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 kWh consumido.
Porém, no caso das residências de Novo Bento, a variação da bandeira tarifária não é a única responsável pelos altos custos. No detalhamento da conta de E. P., por exemplo, é possível observar que a classe é residencial trifásica, referente ao tipo de fornecimento de energia.
Em resumo, existem três ligações referentes à configuração da rede elétrica do consumidor, a depender da demanda de energia: ligação tipo monofásica, utilizada na maioria das residências e pequenos comércios; ligação tipo bifásica, geralmente utilizada em residências e comércios que possuem maior quantidade de equipamentos elétricos; ligação tipo trifásica, mais utilizada em indústrias e comércios com alta demanda de energia.
A ligação trifásica é a mais estável e potente, mas deve-se levar em consideração o custo-benefício para os moradores. Embora a Fundação Renova continue financiando esses gastos, E. P. demonstra preocupação acerca dos custos desproporcionais ao consumo, e afirma não ter “condições de pagar esse valor, de no mínimo R$ 500 de luz”.
J. S., 34, é outra moradora de Novo Bento que também relata insatisfação com os valores cobrados. “Não é porque eles vão pagar durante cinco anos que nós temos que concordar.
Temos que tentar entender e cortar o mal pela raiz”, afirma a moradora.
As ligações monofásica ou bifásica são as opções comumente utilizadas para padrões residenciais, em vista do consumo. “Considerando a quantidade de eletrodomésticos que tenho em casa, eu acho esses valores um absurdo. Eu só lavo roupa uma vez na semana, tenho uma geladeira e um freezer que só ligo quando faço festas, desde que mudei liguei apenas duas vezes”, acrescenta J.S. De acordo com a Cemig, é possível realizar a troca de ligação e a solicitação pode ser feita com o preenchimento de um formulário, disponível no site, ou presencialmente, no endereço Rua Dom Viçoso, nº3, em Mariana.
Além do formulário, também é necessário a apresentação dos documentos pessoais do titular da unidade consumidora e dos documentos do imóvel. A partir disso, a Cemig irá avaliar a solicitação e agendar a visita para realizar a troca da ligação. Segundo a Cemig, os custos na mudança de fase são de responsabilidade do morador.
Após questionamentos sobre a implementação da “Classe Residencial Trifásico”, a Fundação Renova apontou apenas que “foi uma opção definida junto à Cemig”.
S. S., 18, se mudou para o distrito há um ano atrás e também se assustou com os valores das faturas. “As contas estão vindo R$ 700 e isso não é normal”, afirma a moradora. A família de S. S. tentou contatar a Fundação para entender essa escolha, mas continua sem respostas.
Commenti