PARA ENTENDER | O que foi o rompimento da barragem de Fundão e seus impactos
- Artur Corrêa e Sofia Mosqueira
- 3 de nov.
- 3 min de leitura
47º edição
Uma década após o rompimento da barragem, os impactos econômicos, sociais e judiciais continuam presentes na vida dos atingidos.

Quinta-feira, dia 5 de novembro de 2015, o subdistrito de Bento Rodrigues, na cidade de Mariana (MG), foi palco de um dos maiores desastres socioambientais da história do Brasil e do mundo. Aproximadamente às 15h30, a barragem de Fundão, propriedade da mineradora Vale e BHP/Samarco, rompeu, liberando cerca de 40 milhões de metros cúbicos de lama e rejeito de minério de ferro. A cerca de 6 km da barragem, a lama levou menos de 30 minutos para chegar em Bento Rodrigues e, horas depois, atingiu Paracatu de Baixo, também subdistrito de Mariana. As comunidades foram devastadas pela lama, resultando em irreparáveis 20 mortes, entre as quais um aborto.
Segundo matéria do G1, o Ministério Público Federal (MPF) considera cerca de 2,5 milhões de pessoas atingidas pelo crime socioambiental. A lama de rejeitos percorreu o Rio Gualaxo do Norte, passou pelo Rio do Carmo e atingiu o Rio Doce, percorrendo mais de 600 km até chegar à sua foz, em Linhares (ES), no dia 21 de novembro, quando atingiu o oceano Atlântico. Carregada de metais pesados e resíduos tóxicos, a onda de rejeitos destruiu ecossistemas inteiros e impactou diretamente na vida das comunidades ribeirinhas, quilombolas, povos indígenas, pescadores e agricultores que dependem diretamente do rio para a prática de atividades de subsistência.
De acordo com dados do Inventário de Barragem do Estado de Minas Gerais de 2014, a barragem era classificada como de alto potencial de dano ambiental, o que se confirmou após investigações e análises sobre sua estrutura. Do tipo “a montante”, utilizada para armazenar os rejeitos provenientes da mineração de ferro, compostos por sílica, minério de ferro, lama e outros particulados, a barragem, que possuía uma série de falhas no sistema de drenagem, apresentava sinais de alerta que já indicavam risco de rompimento. Tragédia anunciada, em 2025, dez anos depois, o caso continua na justiça e as empresas seguem impunes da responsabilidade criminal.
O escoamento da lama pelo rio também fez com que o futuro dessas comunidades fosse impactado, já que os territórios ao redor ficaram inapropriados para o cultivo de plantas e criação de animais para consumo alimentar. Dos 49 municípios atingidos pela barragem, 26 aderiram ao acordo de repactuação, homologado em 2024 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o termo prevê um pagamento de R$170 bilhões pela Samarco, que incluem R$38 bilhões já gastos em medidas de reparação desde o desastre, segundo a União.
As pessoas atingidas estão sendo realocadas e condicionadas a um estilo de vida que não é delas
Em Mariana, o reassentamento das famílias de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, prometido em 2018, só teve início cinco anos depois, em 2023. Após o rompimento, as famílias foram realocadas, provisoriamente, em casas alugadas na sede de Mariana, inicialmente custeadas pela Samarco e posteriormente pela Renova. O que era pra ser provisório se arrastou por cerca de oito anos, quando as primeiras famílias começaram a receber suas novas casas.
Até o momento, mesmo com a insatisfação pela demora e falta de transparência nos processos de indenização e reassentamento, as obras ainda não foram finalizadas. Diferente do que a Samarco informa - como concluídas 100% das construções previstas -, famílias atingidas ainda esperam a entrega de suas casas e a integralização das obras públicas. Para agravar a condição dessas comunidades, o novo acordo de repactuação, homologado em 2024 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), estabelece um prazo de 20 anos para que as ações de reparação sejam finalizadas.
Independentemente das formas de reparação, seja financeira ou territorial, os modos de vida, a memória e a relação afetiva com o local nunca vão ser solucionados com a repactuação. As pessoas atingidas estão sendo realocadas e condicionadas a um estilo de vida que não é delas. Distante de suas raízes, muitas já se foram dessa existência, enquanto outras lutam para não perder totalmente sua cultura e nem a própria identidade.









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