União XV de Novembro e São Sebastião abrem temporada do Banda na Praça com anúncio de tombamento
- Luíza Gabriela Castro e Pamela Lima
- 18 de jul.
- 5 min de leitura
Atualizado: há 13 horas
46ª edição
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Processo de reconhecimento como patrimônio imaterial marca nova fase para as corporações musicais de Mariana.

A temporada 2025 do projeto Banda na Praça começou com um anúncio histórico para a cultura de Mariana. No último domingo (6), durante a abertura do evento, foi anunciado que todas as bandas em atividade no município já estão em processo de inventário para tombamento como patrimônio cultural imaterial.
O anúncio foi feito por Eduardo Batista, conselheiro do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (COMPAT) e atual secretário municipal de Patrimônio Cultural e Turismo, e por Efraim Rocha, presidente da Associação Marianense de Bandas (AMARBANDAS), diante do público reunido na Praça Gomes Freire.

A decisão contempla as onze corporações musicais ativas na cidade, incluindo a Sociedade Musical XV de Novembro, conhecida como Banda da Rua Direita, e a Sociedade Musical São Sebastião de Passagem de Mariana. As bandas foram responsáveis pela apresentação de abertura da temporada.
Para Eduardo Batista, secretário de Patrimônio Cultural e Turismo, o tombamento representa um passo fundamental na valorização da história e identidade social da cidade. “Essas corporações foram construídas pela própria população e são sustentadas até hoje por ela. Por isso, o reconhecimento simbólico como patrimônio imaterial fortalece esse elo coletivo”, afirmou.
Mais do que um reconhecimento afetivo, o tombamento formaliza o papel das bandas como guardiãs da memória, da arte e do ensino musical no município, além de reforçar a importância de políticas públicas que garantam sua continuidade.
Com mais de cem anos de trajetória, a Banda União XV de Novembro e a Sociedade Musical São Sebastião são pilares da cultura marianense. Mantidas por voluntários e fortalecidas pelo engajamento comunitário, ambas seguem ativas graças ao apoio da população e à articulação da AMARBANDAS.
Fundada em 2015 e reconhecida como de utilidade pública municipal em 2024, a AMARBANDAS é uma entidade civil sem fins lucrativos que atua na preservação e valorização das corporações musicais da cidade. Segundo Eduardo Batista, secretário municipal de Patrimônio Cultural e Turismo, o reconhecimento das bandas como patrimônio imaterial amplia o potencial de captação de recursos para o setor. “Com o tombamento, temos mais força para acessar investimentos estaduais e federais destinados à salvaguarda e ao fomento cultural”, destacou.
O projeto Banda na Praça, criado em 2013, também reforça esse movimento de valorização. Após pausas e reformulações, o evento retornou em 2025 com edições quinzenais fixas, sempre aos domingos, às 11h, na Praça Gomes Freire. A cada apresentação, duas das onze bandas em atividade se revezam no palco, mantendo viva a tradição e renovando os laços entre música e território.

História da União XV de Novembro
Fundada em 1901, a Sociedade Musical União XV de Novembro, conhecida como banda da Rua Direita, tem sua origem ligada aos ideais republicanos. Criada pelo médico e político marianense Gomes Freire, a corporação leva no nome uma homenagem à Proclamação da República. Segundo o maestro Leandro Pablo Xavier, esse caráter político esteve presente por décadas. “A banda foi criada para defender os ideais republicanos, mas com o tempo, passou a se dedicar exclusivamente à música e à cultura”, afirma.
Durante a ditadura militar, a sede da banda chegou a ser invadida por militares, sob suspeita de desrespeito aos atos institucionais. O episódio está registrado em súmula publicada pela própria instituição.
Ao longo de sua trajetória, a banda também ampliou sua composição, antes restrita aos homens. “Temos o registro da primeira mulher a integrar a banda tocando baixo tuba, um instrumento tradicionalmente associado aos homens”, destaca o maestro.
A presença da União XV de Novembro vai além dos palcos. A corporação participa de cerimônias religiosas, atos cívicos e eventos simbólicos, como o cortejo fúnebre de Dom Luciano Mendes de Almeida. “A banda educa pela música e preserva a história da cidade em sua atuação contínua”, finaliza Leandro.

São Sabastião, tradição musical em passagem
Fundada em 1910 no distrito de Passagem de Mariana, a Sociedade Musical São Sebastião se consolida como símbolo de resistência e fortalecimento comunitário. Ao longo de seus 115 anos, a corporação tem promovido a formação musical, preservado tradições religiosas e cultivado a memória local.
A banda é sustentada pelo empenho voluntário de moradores, que encontram na música um instrumento de expressão coletiva e identidade. Suas apresentações integram a programação de festas do padroeiro, celebrações cívicas e homenagens comunitárias.
Durante a abertura do Banda na Praça, a Sociedade Musical São Sebastião levou 35 músicos ao palco e estreou, pela primeira vez em público, a execução de um dobrado — estilo tradicional de marcha, caracterizado pelo ritmo cadenciado e presença marcante em solenidades.
A obra, composta por Fábio Henrique homenageia o músico e professor José Mauro Bernardo, figura central na história da corporação e da vida cultural de Passagem de Mariana. “Não poderia ser outra pessoa. Ninguém mais é tão importante na minha jornada musical quanto ele. Por isso, a ele dedico este dobrado”, escreveu Fábio em publicação nas redes sociais. Além de assinar a composição, Fábio regeu a apresentação, marcando sua estreia como maestro.

Desafios para manter a tradição
A continuidade das corporações musicais passa, sobretudo, pela formação de novos integrantes. Para Jádilla Carneiro, clarinetista da União XV de Novembro desde os 11 anos, esse é o maior desafio enfrentado atualmente. A resposta tem vindo da própria base: por meio da Escolinha da Banda, projeto voltado ao ensino musical e à renovação do grupo.
Apesar do reconhecimento do público, que motiva os músicos a seguir, ela destaca que a adesão de jovens tem diminuído. “Muitos estão imersos nas telas e acabam não se conectando com os valores coletivos que as bandas oferecem”, explica Jádilla.
Para reverter esse cenário, a clarinetista defende maior presença das bandas nas redes sociais, ações em escolas e eventos abertos à comunidade como formas de atrair uma nova geração de músicos.

A história de Warlei Malta, percussionista da banda há 14 anos, ilustra o papel transformador dessas corporações. Aos 30 anos, ele conta que conheceu a banda por meio de um amigo e nunca mais se afastou. “Primeiro fui só acompanhando, depois comecei a tocar. Hoje vejo que estar na banda é muito melhor do que estar na rua, fazendo coisa errada. A XV de Novembro é importante demais pra gente”, relata.
Segundo Warlei, a rotina de ensaios e aulas é intensa e mantida com esforço coletivo. “Tem aula de música toda semana com professores contratados para ensinar os mais novos. O ensaio geral é às sextas à noite e domingos de manhã”, contou.
A dedicação de músicos como Warlei e Jádilla evidencia como o patrimônio imaterial das bandas marianenses se sustenta no dia a dia, por meio do envolvimento voluntário e da valorização da cultura local.
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